Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Cristãos ainda sob ameaça

10/06/2016 às 16:46.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:50

Os pequenos talvez sejam os que mais sofrem, possivelmente por serem pequenos. O comentário se deve à celeuma renascida em torno da decisão do Parlamento da Alemanha ao aprovar resolução em que reconhece o genocídio de 1,5 milhão de armênios pelo Império Otomano. Não é mero registro histórico. Por convenção espiritual e puramente didática, a Idade Moderna começa com a queda de Constantinopla. São pactos, porque o tempo antigo não acabou, nem o moderno é geral e constante. 

Como o tema fascina, cuidemos para não desviar o rumo inicial. Falávamos da Armênia, a menor das ex-repúblicas soviéticas, predominantemente cristã, com menos de 20 mil quilômetros quadrados e pouco mais de 3 milhões de habitantes. Nos últimos anos, o país celebrou acordos energéticos com o Irã e a Rússia, voltou a crescer, mas metade da população vive abaixo da linha da pobreza. 

Esse território vem sofrendo desde o século 700 a.C. No século I a.C ., os armênios caíram sob domínio dos romanos, que permitiram a permanência de seus reis. Em 301, foi o primeiro país a adotar o cristianismo como religião oficial, motivando uma guerra com a antiga Pérsia, hoje Irã, que anexou parte de suas regiões, depois repartidas entre poderosos impérios.

No século XIX, parte do país se transfere aos russos. Em 1915, os turcos massacraram grande número de armênios e deportaram os sobreviventes para a Síria e Mesopotâmia, atual Iraque. O cálculo é de que, entre 1915 e 1922, os turcos tenham executado mais de 1,5 milhão de armênios, gerando problemas que até hoje causam graves desavenças. 

Os turcos não se julgam responsáveis pelos massacres que lhe são atribuídos e insinuam que os alemães deveriam lembrar-se do que o nazismo fez em toda a Europa. O presidente Erdogan convocou o embaixador em Berlim para consultas em Ancara. Mais do que isso, preconizou que as relações entre as duas nações serão gravemente afetadas, sem descartar adoção de “medidas adicionais”. Classificou, ainda, o texto alemão de “exemplo de ignorância e de falta de respeito”. 

O Congresso alemão acusou: “O Budenstg se curva aos armênios e a outras minorias cristãs no Império Otomano que foram forçosamente desalojados e massacrados, 101 anos atrás. O Bundestag deplora as ações do governo dos Jovens Turcos, que resultaram no quase completo extermínio de armênios que viviam no Império Otomano”. 

A região, conturbada historicamente, está em estado de atenção e temerosa de dias piores. O analista político armênio Vahram Ter Matevosyan, da Universidade de Duke, contudo, opinião própria: “durante a Primeira Guerra, o Império Alemão foi aliado dos Jovens Turcos – um movimento de reforma no Império Otomano – e tem responsabilidade compartilhada no genocídio”. 

O pensador armênio vai além: “Com o reconhecimento (pelo Parlamento), a Alemanha envia forte mensagem ao mundo, e particularmente, à Turquia, de que a contínua negação da matança não tem lugar na modernidade”. Isto é: os problemas permanecem e, por consequência, ameaçam a já frágil paz na região, atingida com o dramas dos refugiados que por ali tentam escapar de males, cuja origem está no outro lado do Mediterrâneo. 

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