Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Depois do Mineirão

Publicado em 13/04/2022 às 06:00.

A notícia saiu pequena em uma coluna com 8,5 centímetros de altura: “Morre Gil César Moreira de Abreu”. Informava que ele tinha 90 anos de idade, era natural de Juiz de Fora, fora vereador em Belo Horizonte em 1973-1977, deputado estadual em 1983-1987 e federal 1987-1991, durante a Assembleia Nacional Constituinte. No finalzinho, “também chefiou a construção do Mineirão”.

Só o recadinho terminal da nota serviria para identifica-lo pelos mineiros. Coube-lhe, de fato, na gestão do governador Magalhães Pinho, conduzir a construção do Mineirão, de que tantos nos orgulhamos. Enfim, é um dos mais importantes em empreendimentos esportivos das Américas, que sedia os jogos decisivos de campeonatos não apenas brasileiros.

Gil enfrentava os problemas da profissão, na gestão das questões de interesse público, com coragem e bonomia. Não perdia a cabeça, não se exaltava, não se constrangia, não demonstrava intolerância. Conhecia o métier e a cidade. Estudava diligentemente, como engenheiro e gestor, tudo o que lhe era submetido. Gostava de discuti-lo com os colegas profissionais e autoridades.

Quando eu chefiava a assessoria de Comunicação do governo de Minas, na gestão de Israel Pinheiro, o jornalista Rodrigo Mineiro, que o fora de Magalhães, agendou comigo e Gil um encontro na Casa do Jornalista, na Álvares Cabral. Gil, ainda preocupado com o Mineirão, advertiu que, conforme contratado à época, o Estado deveria construir uma grande área para prática de esportes pelos universitários. Compensaria a área cedida para o estádio profissional de futebol.

Assim se fez. Unimos as pontas dos laços do empreendimento e pusemos mãos à obra. O ministro Jarbas Passarinho veio conhecê-lo e aplaudiu, naqueles momentos delicados, quando até houve um movimento grevista em Contagem.

O CEU-Centro Esportivo Universitário foi construído em tempo hábil. Outros projetos foram desenvolvidos na RMBH, com ênfase de transporte público. Para Gil César, o desafio “já era extremamente complexo, e infelizmente ainda estava servindo de pretexto para um jogo político que só poderia prejudicar ainda mais a população”.

Vê-se que o problema persistiu, até adquirindo novas dimensões, como provam os dias que vivemos, tão longe do período de Gil César. Muitos como ele deviam tê-lo sucedido com ideias, capacidade e determinação. Com o crescimento da capital, novos e pérfidos reptos surgiram para desafiar os homens públicos. E, pelo que se vê, há muito a fazer, discutir e deliberar. A população espera relativamente com paciência, mas até quando?

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