Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Desmontando o circo

30/08/2016 às 18:42.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:37

Passada a Olimpíada, ela não escapa à mídia. Haverá assunto pelos anos enfora para os que dela participaram e terão o que contar, bem como para os que a acompanharam, principalmente pela televisão. Um festival de belas imagens que serão conservadas na memória.

Mas nem tudo é belo e colorido, e já não me refiro à população do Maranhão e do Acre, doloridamente estigmatizada pelas rebeliões de malfeitores internados em presídios regionais, revoltados pela proibição de comunicar-se por celulares ou assemelhados para ordenar ataques a bens públicos e privados, sobretudo coletivos. Um absurdo o que as autoridades fazem com os coitadinhos dos presidiários!

Newton Oliveira, professor, um dos responsáveis pela estratégia de segurança dos Jogos Paraolímpicos no Rio, observou: um efetivo policial duas vezes superior ao dos Jogos de Londres não seria suficiente para legar um Rio de Janeiro mais seguro após a Olimpíada 2016. Comentou: “apesar das promessas durante a candidatura (à realização dos Jogos), a violência está pior no Estado” do Rio. “A Rio–2016 é como um circo que chega na cidade, faz o espetáculo, vai embora e não deixa legado algum”. 

Depois do período esportivo frenético, em que o Brasil se tornou o foco mundial, temos na pauta cotidiana o impedimento da PresidentA. Está instaurada a fase decisiva do processo, que parou o Brasil mais do que merecia e se esperava. No uso do jus esperniandi, a defesa da acusada apelou à Comissão de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos, mas Senado e Câmara dos Deputados explicaram quer não há ilegalidade no impedimento. Fim de papo. 

Agora, manguinhas de fora porque a campanha política municipal está desencadeada. E, como vivemos em país fora de série (não confundir com fora de sério), deparo, sem surpresa, a notícia baseada em dados do Superior Tribunal Eleitoral e da estimativa populacional para 2016 do próprio IBGE. 

Em 348 cidades brasileiras, há mais eleitores do que habitantes. Elas representam 6,2% do total de 5.568 municípios, nos quais haverá eleição este ano. A maior diferença está em Canaã dos Carajás, onde Judas deve ter perdido a bota. Lá há 39.832 eleitores e o IBGE calcula 33.632 pessoas. Isto é, existem 6.200 eleitores mais que moradores. E não somente na terra de Canaã, mas o fenômeno é explicado pelo STE. Nem sempre o domicílio eleitoral é o mesmo civil.

Nos tempos cruéis para a PresidentA, que logo deixará de sê-lo, aplicar-se-ia a frase de Lord Acton: “O poder corrompe. O poder absoluto corrompe absolutamente”. Caberia também lembrar um nobre francês, antes de guilhotinado e cujo nome a história não registra: “Acima de tudo, jamais confesse”.

Outra declaração partiu de Mme Roland, a caminho da máquina de cortar pescoços humanos: “Ó Liberdade, quantos crimes se cometem em teu nome”. Fernando Guedes de Mello, porém, acrescenta: “Ó, pobres, quanta roubalheira é cometida em teu nome”. 

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