Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

E a guerra continua

07/12/2017 às 19:59.
Atualizado em 03/11/2021 às 00:07

As pesadas chuvas que caíram sobre extensas regiões de Minas nos primeiros dias de dezembro e a ação de criminosos, grandemente vindos de outros estados, deixaram o rastro da morte em vários municípios. Com ajuda divina, implorada ardentemente pela gente na cidade ou no campo, a água caiu do céu, em determinadas regiões além do esperado. Inundações, com ênfase na Zona da Mata mineira, no Norte e no Vale do Jequitinhonha. Na Grande BH, não foi o menor problema, com graves consequências para numerosas famílias, a circulação de veículos, as habitações semidestruídas, a falta de alimentos.

Consumado o drama, novas previsões de temporais em Urucânia, Santa Cruz do Escalvado, São Pedro dos Ferros, Rio Casca, Santo Antônio do Grama e Piedade de Ponte Nova. Nem o milagroso Padre Antônio, de Urucânia, a que outrora se atribuíam feitos sobrenaturais, conseguiu atender às súplicas. Nos primeiros dias, o número de mortos chegava a seis, mas as estimativas eram piores.

No entanto, a calamidade não se restringiu ao que decorria da ação da natureza, já que a Deus não se pode culpar por males e danos, a não ser quando o homem contribua para o desastre. Por extenso território, lugares dispersos, bandos de marginais continuaram em seu afã, não mais restritos às capitais ou aos grandes centros populacionais ou econômicos. Hoje, onde há um banco, uma cooperativa, uma agência de Correios serve aos criminosos. Para isso, armaram-se suficientemente e são plenamente motivados. 

Os inimigos da lei e dos homens de bem atuam incessantemente, inclusive por saberem que os destacamentos policiais do interior têm contingentes reduzidos e a população, pacata, não está preparada para reagir à agressão. Na primeira semana de dezembro, grupos fortemente preparados para uma batalha atacaram agências bancárias e explodiram caixas eletrônicos: em Pompéu e Oliveira, na região Centro-Oeste de Minas, em Tapira, no Alto Paranaíba, e em Santa Rita de Caldas, no Sul do Estado. Davam, assim, sequência a atentados em Arcos, onde há até um Campus da PUC. Em Pompéu, novos feridos e mortos, inclusive um cabo da PM, de 38 anos, vitimado por um tiro na cabeça. Dois dias depois, foi a vez de Nova Ponte e Itapagipe, no Triângulo.

O assunto já fora tema de discurso do deputado Edson Moreira, membro da Comissão Especial de Combate ao crime Organizado, em reunião da Câmara Federal. Assim se expressou: “é inconcebível o que estamos vivenciando nos últimos meses. Na semana passada, mais uma cidade mineira sofreu uma madrugada de terror por causa da ação de uma quadrilha especializada em ataques a caixas eletrônicos. Desta vez, o crime ocorreu em Buritis, na região Noroeste de Minas, e com requintes de filme policial. Uma coisa inacreditável”.

Os criminosos, que estavam fortemente armados, com fuzis e pistolas, cercaram o quartel da Polícia Militar e impediram a saída dos agentes com tiros e bombas, enquanto seus comparsas explodiram terminais de três bancos da cidade, da Caixa Econômica Federal, do Bradesco e do Banco do Brasil, “deixando um rastro de destruição e um prejuízo quase incalculável. Foram cerca de 40 minutos de terror. Depois, eles fugiram em carros roubados na cidade de Uberlândia, com o dinheiro em direção a Brasília”. 

Mas a guerra está longe do fim. Mais cabeças rolarão, mais sangue de cidadãos do trabalho e da paz, de agentes da lei será derramado.

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