Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

E, agora, José

05/10/2022 às 08:00.
Atualizado em 06/10/2022 às 11:00

A pergunta é perfeitamente pertinente agora que 2 de outubro passou e, com a data, a tão aguardada eleição deste ano. Ficava a segunda interrogação: haverá o segundo turno? Eis a indagação que restava do primeiro domingo do décimo mês.

Carlos Drummond de Andrade, que era de Itabira e jamais perdeu oportunidade para imiscuir-se na questão política, quando instalou a ditadura de 1964, meditava: “O maior erro de um Presidente da República, em nosso sistema de governo, está em considerar-se dono do País e de seus habitantes. Esquece-se de que é um servidor, – um servente, que ajuda no trabalho - como outros, e até mais tolhido e desamparado do que os outros em seu período limitado de exercício e na imensidão de obrigações que deveriam assustá-lo em lugar de enchê-lo de arrogância. É preciso muita lucidez, muita polícia íntima, para que o presidente se ponha no seu lugar, aparentemente mais alto de todos e, no sentido moral, tão frágil e escravizado a lei quanto o de um mata mosquito”.

O poeta aprofunda a meditação: “É com tristeza misturada a horror que, ao longo da vida tenho presenciado generais depondo presidentes, por piores que estes fossem. Será que jamais aprenderemos a existir politicamente? Não haverá jeito para o Brasil?.... Que fazer quando o servidor-presidente se torna inimigo maior da tranquilidade? Esperar que ele liquide com a ordem legal, para depois processá-lo segundo os ritos, julgando-o pelo Supremo Tribunal ou pelo Senado? Que Senado, que Tribunal existiriam a esta altura? Quem souber de outra solução para o caso, indique-a”.

Carlos Heitor Cony, também mineiro, mas de Além Paraíba, naquele momento histórico da deposição de Jango, expôs seu pensamento: “Na antiguidade, o poder emanava de Deus: omnis potestas a Deo, segundo ensinou São Paulo. Esses inefáveis tempos, que não mudaram em substância, mudaram em forma: hoje a própria Igreja reconhece que o povo é uma espécie de voz de Deus e aceita a vontade popular como um dos sinais mais autênticos e constantes da providência divina”.

Vox Populi, Vox Dei? Não é isso? Quem irá negá-lo, com um ou dois turnos?

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