Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

É só lucro

24/01/2022 às 19:25.
Atualizado em 30/01/2022 às 19:27

Atravessamos um ano eleitoral. Muito propício ao levantamento de suspeitas sobre os candidatos adversários, de divulgação de boatos, acusações e mentiras, além de permitir a disseminação de promessas que, no fundo, não representam compromissos dos que se elegem. 

Galeno Alvarenga, de Itabira como Drummond, formado em Medicina e Filosofia pela UFMG, distinguido com títulos e premiações que chegam a dar inveja, autor de excelente livro de Crônicas e Ensaios, lançado pela Editora Campos do Brasil, há exatamente vinte anos, nos oferece considerações sobre “quando as palavras mentem”, a partir da ideia de que, através delas “despertamos ou criamos crenças, valores, fantasias e desejos adormecidos que habitam nossas almas”. 

Aí entramos no aspecto que vem ao tema: “O condutor de massas, o líder carismático e o grande pregador sempre usaram e abusaram das “palavras oportunas”, no momento certo. Somos, num certo grau, dóceis e fracos, sujeitos às manipulações continuadas dos mais espertos”. 

Como funciona. “Em todos os tempos, um grupo dominou o outro para seu benefício. Assim é que na maioria das culturas os homens jovens e brancos, sadios, ricos, saudáveis, inteligentes e cultos exploraram as mulheres, os velhos, os negros, os pobres, os doentes, os deficientes mentais e os incultos. Este é o nosso destino: obedecer, sem refletir e sem o desejar, à vontade dos mais sagazes e com mais poder”. 

Depois de focalizar os comerciantes, Galeno se refere aos políticos. Estes, “usando as palavras adequadas e comoventes, segundo o padrão da propaganda, oferecem-nos a justiça social, os empregos com salários altos para todos, a assistência médica de alto padrão, a proteção à criança abandonada e ao idoso, uma Justiça digna para os grupos marginalizados, uma alimentação abundante e barata. Em resumo, tudo o que é desejado por todos nós. Para quem? Para uma maioria que nunca imaginou poder alcançar tais coisas, compostas dos sem-casas, pivetes, negros e os brancos pobres, mulheres desempregadas ou com subempregos,  crianças, analfabetos, deficientes mentais, etc., ou seja, pessoas sem oportunidades e estigmatizadas socialmente. Vivemos ainda sonhando com o paraíso perdido”.  

Finalizando, o mestre em Filosofia, observa. “Quando se fala em melhoria do ensino, trata-se apenas de melhorar a capacidade de compreensão da leitura de instruções para que o operário saiba utilizar melhor o maquinário da empresa, aumentar a produção, a leitura de revistas que precisam ser vendidas, de propagandas diversas e, deste modo, haja mais consumo com mais lucro para as empresas”.

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