Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Em cena aberta

Publicado em 14/06/2023 às 06:00.

Patrus Ananias não foi distinguido com um cargo elevado pelo atual governo da República. Continua com suas atividades na PUC, onde é professor, e na Academia Mineira de Letras, em visível atuação. Ele conta que há 20 anos, sob a liderança do Padre Paulo Gabriel, integrou um grupo que saiu de Belo Horizonte para ir a Ribeirão Bonito, hoje município de Ribeirão Cascalheira, Prelazia de São Félix do Araguaia. Ali, em 1975, foi assassinado o Padre João Bosco Penido Burnier.

Ele estava ao lado de Pedro Casaldáliga. Confundiram os dois. Eles queriam matar o Pedro.

“Fomos lá celebrar os 25 anos dessa Páscoa. Viajamos uma noite inteira. Um dia inteiro.

Entramos pela outra noite e chegamos com o outro dia amanhecendo. No encontro com Pedro, eu lhe disse.

– Estou a caminho da Prelazia de São Félix há quase 30 anos. Uma jornada que começou no meu coração, quando li, em 1971, a sua Carta Pastoral profética – “Uma Igreja da Amazônia em conflito com o latifúndio e a marginalização social.”

Amigos muito queridos, colegas de geração e de sonhos, fizeram de fato a belíssima caminhada e foram partilhar a experiência profética que se materializava nos sertões de Mato Grosso. O testemunho e os ensinamentos de Jesus ganhavam vida. Eu os acompanhava longe dos olhos, muito próximo do coração.

Prefeito de Belo Horizonte, tive a alegria de encontrá-lo e conversamos longamente na Casa dos Agostinianos, no Barreiro. Ele me retribuiu a visita e foi abençoar o nosso trabalho na prefeitura.

Fui visitá-lo algumas vezes em São Félix, partilhamos a mesa, rezamos juntos. Procurei, a exemplo de Maria, guardar os seus ensinamentos no coração e na memória. Voltarei agora aos seus livros.

No Natal de 2022, Patrus observava: “É presente nos nossos tempos o debate sobre a separação entre o Estado e as religiões, separação esta que considero correta na perspectiva do Estado Democrático de Direito, dos Direitos Fundamentais que acolhem a liberdade religiosa e de não-crença, as diferenças, a diversidade.

No entanto, os ensinamentos de Jesus transcendem a dimensão individual e enlaçam as relações humanas nas suas dimensões coletivas, comunitárias, nas relações com a natureza. É instigante que Jesus coloque nesta perspectiva convivencial a oração que nos ensinou: o Pai-Nosso.

Não vejo como negar a dimensão política – no sentido mais alargado da palavra, a “política como a arte do bem comum” – de muitas e belíssimas passagens evangélicas. Lembremos o Sermão da Montanha ou das Bem-Aventuranças: “Bem-aventurados os que promovem a paz”... (...)

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