Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Em um 21 de abril

Publicado em 24/09/2025 às 06:00.

Conservei o texto do discurso do prefeito de Ouro Preto, pronunciado em memória e honra de Joaquim José, o Tiradentes, durante a pandemia. Uma joia, como dizem os mineiros. Ângelo Oswaldo de Araújo Santos, da Academia Mineira de Letras, foi efusivo e forte, diante dos acontecimentos que marcaram a data e válido em meio aos sobressaltos desta hora.

Admitindo a redução do rito, o orador observou: “Há exatos 70 anos, o governador Juscelino Kubitschek presidia a primeira cerimônia na qual, desde então, Minas Gerais celebra, em Ouro Preto, o Dia do Tiradentes e dos conjurados de 1789. A dimensão nacional da Inconfidência Mineira, cujas projeções a situam, de modo relevante, no contexto dos movimentos libertários das Américas, motivou o estadista de Brasília a estabelecer o rito que aqui parcialmente se renova. 

Ouro Preto tem sofrido as mais profundas perdas com as injustiças da atividade mineradora, o baque econômico da pandemia e as recentes chuvas desastrosas do longo verão. Ouro Preto escancara todas as faces da História. O ouro nos deixou o barroco, mas o ciclo do ferro nos condena ao barraco e nos afoga no barro. Interesses e obstáculos econômicos e o obscurantismo político não devem prevalecer sobre as aspirações da sociedade. Tiradentes nos legou essa capacidade de resistência à opressão e de indignação ao império da estupidez. Faz 180 anos, Teófilo Ottoni chegou preso a Ouro Preto e o povo cercou a cadeia na tentativa de libertá-lo. Meio século após a execução de Tiradentes, o líder da Revolução Liberal de 1842 restaurava o ideário da Inconfidência. Hoje como ontem, seguimos o rumo traçado por Tiradentes, Teófilo Otoni e Juscelino Kubitschek.

É com este sentimento, que vibra nas pedras de Ouro Preto e faz bater forte o coração, que reafirmamos a crença na liberdade, na justiça e na democracia. 

Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, reaviva em nós a consciência democrática. A primeira universidade do Brasil foi imaginada aqui, e de novo sonhamos com o ressurgimento da universidade. As primeiras manifestações genuínas da nossa cultura, tal como faz cem anos, reconheceram os modernistas pioneiros, brotaram aqui, e voltamos com o mesmo ímpeto a buscar a liberdade de expressão.

Que as celebrações da Inconfidência Mineira nos tornem cidadãs e cidadãos renovados na esperança. Temos a certeza de que não há outra via senão aquela que dá continuidade à vocação de Minas para a liberdade e nos conduz a todos ao destino democrático do Brasil”.

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