Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Entre chuvas e destruição

19/11/2016 às 14:35.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:43

No Brasil há tremores de terra, felizmente sem maiores consequências. Um deles, porém, perto de Montes Claros, no distrito de Caraíbas, registrou uma vítima. Para alegria nossa, porém, não temos casos de maremotos, o máximo que se observam são ondas de cerca de três metros de altura, como aconteceu no Rio de Janeiro recentemente, espantando os banhistas das praias e os aficcionados de surfe.

No Japão houve o tsunami, e mais ao Sul nos países asiáticos, sucedem-se registros letais. Na Itália, há pouco, terremotos causaram pânico, mortes, feridos, danos em áreas urbanas. Em Portugal, temeu-se que o problema surgisse. O sismo de 1º de novembro de 1755 ainda provoca medo aos lusitanos.

Um técnico de Portugal, que foi à Itália, avisou: “Podemos ter sismo de magnitude muito elevada a qualquer momento. Sabemos que não o podemos evitar, mas podemos evitar as consequências, reforçando as casas e ter uma atitude adequada perante um sismo”, mas como nada é feito, “se acontecer aqui, basta ser igual aos que aconteceram na Itália, Lisboa vai ficar arrasada. Não estamos nada preparados”. O terremoto do século XVIII foi maior que o do Japão, em 2011, com 8,9 graus de magnitude. 

Em 14 de novembro de 2016, moradores das áreas costeiras da Nova Zelândia sofreram as consequências do tremor de 7,8 graus, registrado logo após a meia-noite, quando se alertara sobre um tsunami. Boletim advertia que ondas de cinco metros podiam causar danos e mais vítimas, além das duas mortes já registradas. 

Portugal, lá longe, conhecia o drama. Na última noite de outubro de 1755, Lisboa ainda se revelava uma cidade formosa, mesmo sem a opulência do Quinhentismo. Na manhã seguinte, outro novembro, a capital lusa estremeceu durante nove minutos. O que não derruiu, ardeu, disseram os cronistas.

No Brasil, contudo, vivemos outro tempo. A primavera não é tão saudável para os gaúchos da fronteira com a Argentina. Há borrascas, o vento sopra fortemente, há pancadas de chuvas, as águas encrespam, diminui a visibilidade. É mais ou menos o que conta Nélson Hoffmann, escritor de raras virtudes, ex-prefeito de Roque Gonzales, às margens do rio Ijuí, cujas águas fluem ao rio Uruguai, no limite com a terra de Borges, um cego que via longe. 

Diferentemente, no sertão mineiro aguardava-se com ansiedade o inverno, isto é, a estação das chuvas. Paulo Narciso, advogado e jornalista de mão cheia em Montes Claros, no Norte mineiro, a maior cidade da região, acompanhou do Alto dos Morrinhos, as variações da época. 

Escreveu, no último dia 10: “Por volta das 14h20min, a chuva que estava dependurada em grossas nuvens escuras desceu. Choveu copiosamente, aos cântaros, como se costumava dizer. Não sei como nas outras partes da cidade, mas na região do aeroporto a chuva foi exemplar, constante 20 minutos, grossa como convém, educada, sem raios e trovões. Coisa que não via há tempos – chuva constante, plena, festa de poetas cantores no céu, natureza em tarde de gala, refulgente. Desejar um arco-íris a mais talvez seja demasia, impróprio por muito querer. A chuva estancou, mas o céu promete mais, para reconciliar-se com o chão longamente cauterizado pela seca. Plenitude. Completude. Amém”.

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