Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Evocando Almeida Reis

Publicado em 26/03/2022 às 06:00.

Ponho o papel na máquina, como o faz o Nobel alemão de Literatura, Grass, para redigir mais um comentário – um dos três da semana. Mas o faço de má vontade, porque me cabe registrar o falecimento de um dos maiores nomes das letras brasileiras neste nosso tempo: Eduardo Almeida Reis.

Aos 84 anos, após colaborar com os maiores jornais do Brasil, autor de livros que se contarão às centenas, Eduardo foi autêntico na vida e no exercício de uma profissão que dificilmente enriquece ou permite a quem a exercita gozar das benesses que pretende ou a que se julga destinado. Em compensação, sente-se liberado de compromissos que possam impedir-lhe a opinião inteiramente livre de qualquer amarra.

Nascido no Rio de Janeiro, num mês de agosto e antes que a primeira semana terminasse, em 1937 de tantas e tamanhas atribuições políticas que a História registra, Eduardo se formou em Direito, a cuja banca não se dedicou tanto tempo como pretendera, e porque sua destinação já estava estabelecida solidamente: escrever. Seguiria a excelente Helena Morley, sua avó, autora de “Minha vida de menina”, esposa de Mário Brant, secretário de Educação do governador Milton Campos, e presidente do Banco do Brasil.

E o fez por dezenas de anos, com brilho, altamente considerado pelos seus pares e concorrentes, porque lhe corria nas artérias e veias um sangue muito singular, de que poucos desfrutam. Com três filhas, devotadas igualmente às letras e ao jornalismo, orgulhava-se da maneira como elas se portavam, a ponto de uma alcançar a chefia de uma das maiores folhas do país. Refiro-me a Ana Cristina.

Esta filha (há ainda Ana Maria e Ana Luisa), com carinho, declarou: “Eu e minhas duas irmãs teremos lembranças lindas e uma saudade eterna de um pai que foi genial, generoso e, às vezes, genioso e teimoso. Com ele, aprendi a ser sempre correta nas relações profissionais e pessoais. Também me fez ser exigente com namorados. Demorei a me casar, mas encontrei um marido sensacional, Luiz Paulo Horta, imortal da Academia Brasileira de Letras, de quem sou viúva”.

Eleito para a Academia Mineira de Letras, em que ocupa a cadeira 24, ele julgou considerada a hora de em Belo Horizonte se instalar, recorrendo a meus préstimos para algum efeito. Quando necessitou de um oftalmologista.

Um de seus editores confessou que Eduardo foi responsável por obras que fizeram a festa dos livreiros e o regalo de milhares de leitores. De fato, ler assim, como conviver com Almeida Reis, foi um brinde à vida. Escrevemos para o Hoje em Dia diariamente por anos e guardo as melhores recordações, do profissional e do ser humano. Para ele, se toda gente usasse a centésima parte do tempo para contemplar o céu noturno, talvez o mundo fosse muito melhor, muito menos violento e muito mais feliz.

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