Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Expectativas além da Copa

30/06/2018 às 18:00.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:07

 as lembranças da Copa do Mundo de 2018 depois que ela passar? É triste e lamentável a participação fora de campo dos brasileiros que foram à terra de Tolstói e Stalin. Os nossos torcedores-turistas fizeram papelões, no plural. Os jornais britânicos criticaram os jogadores brasileiros na vitória sobre Costa Rica. Neymar foi classificado de “mimado, resmungão, dramático e trapaceiro”. Em restaurante na gloriosa São Petersburgo, o presidente da CBF, ao lado de familiares, foi hostilizado por um torcedor do Paraná, que o chamou de “safado e vagabundo”, quebrando-lhe um copo na cabeça. 

A revista “The Economist” previra, pelo seu site, que o Brasil seria campeão. Porque havia a ameaça dos loucos/maníacos do Estado Islâmico, ameaçando a competição com “um massacre nunca visto”. Seria a vingança contra a grande nação de Putin, por contrapor-se a operações do grupo terrorista na Síria. Ficou nisso, felizmente. Melhor assim.

A Copa do Mundo, que tanto empolgou os brasileiros, já vai terminar. A gente deste espaço do mundo esperava apagar o vexame da anterior, no coração do país, quatro anos atrás, em Belo Horizonte. Não são poucas as dúvidas e preocupações também na cena política. Chegamos ao segundo semestre de 2018 com velhos e novos desafios.

A violência permanece habitando nosso campo e nossas cidades. As dificuldades para vencê-las se tornaram mais evidentes depois da intervenção militar na segurança do Rio de janeiro. Em todos os estados, porém, as gangues atuam e enfrentam os agentes da lei, que caem inexoravelmente diante do poder de fogo dos bandidos, abastecidos com melhores armamentos, munições e dinheiro à suficiência.

No campo político-administrativo, identifica-se a insatisfação da população, que reconhece a incapacidade das autoridades para superar os imensos obstáculos, resultantes de equívocos e malfeitos mais recentes ou dos acumulados, que ganharam vigor no decorrer de décadas. E há uma eleição este ano.

Lembro agora o advogado paulista Almir Pazzianotto Pinto, ex-presidente do Tribunal Superior do Trabalho e ex-ministro do Trabalho. Com propriedade, dizia ele que estamos na oitava Constituição, a sétima do período republicano. “O número elevado de emendas revela que a redação original deixou a desejar. Os membros da Assembleia Nacional Constituinte decidiram por texto analítico, minucioso, prolixo, recheado de dispositivos dependentes de regulamentação. Recusaram o sucinto modelo americano, cuja lei fundamental data da independência em 1787.

Lembre-se Norberto Bobbio, durante crise na Itália, quando sentenciou: “A Constituição não tem culpa”. Pazzianotto acrescentou: “O mesmo se deve dizer em relação à nossa. Nem por isso, devemos responsabilizá-la por problemas que enfrentamos”. Eis a realidade.

O segundo semestre será dos mais difíceis.

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