Em 1965, foi editado em Belo Horizonte um dos meus primeiros livros. Refiro-me a “Considerações sobre Hamlet”, resultado de anos de estudo e pesquisa da obra de Shakespeare e de seu célebre personagem. Inspirara-se o dramaturgo inglês na vida de um príncipe nórdico, cujo pai fora morto pelo próprio irmão, a fim de assumir o trono e o império: como resgatado nas páginas da história por um religioso – Saxo Grammaticus, no século XII.
Se meu trabalho desapareceu na memória dos que o leram, não aconteceu com todo o público. Tanto que ilustre estudioso do assunto, catedrático de universidade no Nordeste do país, recentemente publicou excelente estudo, inspirado em meu livro, sobre uma personalidade marcante da peça do dramaturgo de Stratford.
Não só isso: Hamlet, originalmente encenada em Londres a partir do ocaso do século XIX (em torno de 1596), ainda é uma das peças de teatro mais levadas à cena em palcos de todo o mundo. Tanto que, no finalzinho de junho deste 2024, ela desembarcou em Belo Horizonte com montagem audaciosa, segundo jornal local.
A folha anunciou que “Rodrigo Simas, um rosto conhecido da televisão brasileira, chegava a Belo Horizonte com o monólogo “Prazer, Hamlet”, espetáculo escrito e dirigido por Ciro Barcelos”. Explica-se: “A peça é uma adaptação contemporânea do clássico de William Shakespeare, que mergulha nos dilemas e prazeres ocultos do personagem Hamlet”. Não assisti à peça no Sesc Palladium, nos dois últimos dias do sexto mês, ainda que se anunciasse a peça, “com sua abordagem inovadora e subversiva”, prometendo ressoar com dramaturgos, estudantes de teatro e sociologia”, oferecendo uma experiência teatral única e provocativa, embora o simples fato de ser um “Shakespeare” já fosse um convite no mínimo razoável”.
Simplesmente por ser algo da criação genial do dramaturgo inglês, constituiria um acontecimento para a capital bem mais “novinha” do que a Londres em que a peça se encenara pela primeira vez. E também por se tratar de um personagem novo, imaginado pelo autor Ciro Barcelos para interpretação de Rodrigo Simas.
De todo modo, uma bela oportunidade para a capital mineira ingressar ou enaltecer uma das mais comoventes tragédias do gênio de Stratford, que forneceu à língua inglesa o maior número de expressões de uso comum e inspirou várias dezenas de títulos e temas não propriamente ligados ao conteúdo da peça, como disse o escritor José Guimarães Alves, apresentador de meu livro.
Conclui-se, com orgulho, Hamlet permanece vivo e poderoso depois de 400 anos de sua estreia. A capital de Minas substitui a dos ingleses.