O ambiente em Brasília se mantém em alta temperatura. Basta constatar pelos meios de comunicação. Tenho certa antipatia a redes sociais, usadas grandemente para disseminar maldades e malícias, acusações descabidas, posto o instrumento à disposição de quem não demonstra, como se constata repetidas vezes, interesse maior no exame e discussão dos problemas nacionais.
Jornais publicaram recente declaração de Paulo Guedes: “O ex-ministro da Saúde vem dizer que não demos muita atenção à crise. É um animador de televisão, um inconsequente de falar algo como isso”. Mas, os ministros Luiz Henrique Mandetta e Paulo Guedes nunca se entenderam bem, como o livro do ex-titular da Saúde – “Um paciente chamado Brasil: os bastidores da luta contra o coronavírus” o revela.
No livro, Mandetta conta sobre reunião ministerial de 31 de março, em que ele e Guedes se atritaram quanto a reajuste de remédios, que o colega queria liberar em plena pandemia: “Todo o problema aconteceu porque o Guedes não havia se inteirado sobre as regras de preços no setor farmacêutico. Esta é uma das poucas áreas que, desde época do governo Fernando Henrique Cardoso, continua com preços tabelados, definidos pelo governo”.
Assim, uma vez por ano, os dois ministros se reúnem para decidir de remédios. Guedes já era, por iniciativa pessoal, pelo aumento de 3,4%, mas Mandetta não concordava. Está no livro. Ministro da Saúde: “Poxa, no meio de uma pandemia, com pessoas sem dinheiro, uma multidão de desempregados, e o governo vai anunciar aumento de remédio? Não é hora de dar esse reajuste”.
O titular da economia, que até então parecia alheio a tudo, saiu do transe em que parecia estar e falou: “Negativo, eu não admito tabelamento”. Mas ele sequer sabia que o preço do medicamento já era, fazia tempo, tabelado. O aumento podia aguardar momento mais favorável, opina Mandetta.
Foi uma discussão feia durante a reunião, Guedes acusando Mandetta de tentar interferir em matéria do Ministério da Economia. As vozes ganharam volume. O ex-titular da saúde confessou: “Ele falou mais alto, eu falei mais alto”. “Ele tentou me interromper. Eu não deixei. Você fica quieto, porque eu fiquei quieto quando você falava”.
Bolsonaro calado, olhos arregalados. Mourão deu um tapa na mesa e gritou: “Vamos parar com isso”. E a discussão brava terminou.