Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Minas e os leigos

Publicado em 20/08/2025 às 06:00.

Não se trata de lançamento de livro novo. Mas está à disposição do leitor. “Os leigos e o poder: Irmandades Leigas e política colonizadora de Minas Gerais”, segunda edição, revista, do trabalho de Caio C. Boschi, pela Hucitec Editora. É trabalho que não se pode perder o ensejo de chegar às mãos, principalmente no Brasil. Isto é, destinação a todo mundo deste território hemisférico em que vivem milhões interessados nas irmandades religiosas no Brasil. Isto é, destinação a todo mundo deste território: hemisférico em que vivem milhões, mas tão mal conhecido por múltiplas razões. 

O volume que ora chega em segunda versão não é uma aula: é um curso sobre tema que deve merecer especial atenção sobretudo dos mineiros que têm profunda afeição e interesse de sua relação “com a longínqua região colonial e a cabeça do império, o centro de que emanava o poder”, na expressão de Laura de Mello e Souza, que assina a primeira orelha. 

No primeiro parágrafo, o autor explica e justifica a sua escolha pelo tema em poucas linhas: “A história das confrarias, arquiconfrarias, irmandades e ordens terceiras se confunde com a própria história social das Minas Gerais do setecentos. Acompanhando duas constituições e desenvolvimento, acompanha-se a formação e a estruturação da sociedade mineira. Os dois fenômenos caminham pari passu. Difícil dizer qual a determinante do outro. É preciso buscar referencial, penetrar fundamente em seu estudo, apaixonante estudo que leva a captar, através dessas associações, a pulsação social da Capitania.  

Boschi ressalta que, quanto mais avançavam os Tempos Modernos, mais combalida se tornava a posição da Igreja naqueles temas. Significava que, enquanto o desenvolvimento científico e a ampliação geográfica do mundo então conhecido passaram a contrastar frontalmente com os ensinamentos ministrados pelo Vaticano, como informa Bengler, no período cultural do século XVIII, declinando a Igreja e suas lideranças sobre os problemas urgentes do tempo. Sua ação se torna apenas parte dependente do Estado, feita como parte integrante e importante de diretrizes políticas de um novo tipo de Estado: as monarquias absolutistas. Os reis afirmaram sua autenticidade também sobre os negócios eclesiásticos e lançavam mão da Igreja para implementação de seus projetos. 

Repito o autor na íntegra: “Assim como a Espanha, Portugal é um bom exemplo de como essa mediação foi desenvolvida. O instituto do Padroado norteou toda a vida religiosa das colônias lusitanas. Mais que isso. Não seria arriscado dizer, para o caso brasileiro, que se orientou, em termos cronológicos, a maior parte de nossa história, pois que só desapareceu nos fins do século passado”. 

O Estado não só admitiu, como também foi ele próprio o responsável pela criação das ordens religiosas nas Minas Gerais. A data escolhida (1820) é aquela em que os lazaristas portugueses, a convite de D. João VI, fundaram o Colégio do Caraça, sobre os escombros do Hospício de Nossa Senhora Mãe dos Homens, onde outrora florescera importante associação leiga, sob a égide do convertido irmão Lourenço”.

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