Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Morte macabra na Califórnia

24/11/2017 às 06:00.
Atualizado em 02/11/2021 às 23:51

Completou 83 anos no dia 12 de novembro e, dois dias depois, no dia 14, morreu. O óbito foi às 20h13 locais, em um hospital, cujo nome não acompanhou a informação. Refiro-me a Charles Manson, um dos personagens do meu livro “Hippies, protesto ou modismo”, por sinal recebido elogiosamente por A. A. Mello Cançado, que assinava crônica no antigo “O Diário”, de Belo Horizonte. Professor de Direito Romano, o mestre sempre foi generoso comigo e meus escritos.

Na data de aniversário, Manson pediu liberdade condicional, rejeitada como em outras vezes, após condenado a prisão perpétua pela morte de várias pessoas na Califórnia, em agosto de 1969. Entre elas, a da atriz Sharon Tate, então com 26 anos, grávida de oito meses e meio. Era esposa do cineasta Roman Polanski, diretor de filmes de sucesso internacional, e ainda com relativa popularidade.

O boletim do Departamento de Correção e Reabilitação da Califórnia, CDCR, foi econômico em palavras. Esclareceu que o preso “morreu de causas naturais”, aquelas não permitidas por ele pelo menos a sete pessoas, há quase cinco décadas. Para seu macabro desiderato, Charles Manson reuniu pessoas, de que era guru, formando uma “família”, como aliás o grupo era conhecido. À guisa de curiosidade, lembro que do laudo da execução de Tiradentes constava que ele falecera também “por morte natural”, na forca. 

Pela mídia, fiquei agora sabendo que o “caso” continua despertando interesse na sociedade norte-americana. Não só Tio Sam, contudo. Todo o mundo conhece a trajetória mórbido-criminosa de Manson, no decorrer dos 40 anos de cadeia, que o livraram da pena de morte a que fora inicialmente condenado. O mesmo acontecera com discípulas envolvidas na trama e no ato final. A mão fatal foi de Susan Atkins, que esfaqueou a atriz de Hollywood. Para marcar mais profundamente a cena, ainda escreveu com o sangue da vítima, na porta de entrada da casa, a palavra “pig”, porco.

Por envolver gente conhecida na sociedade, mesmo artistas de Hollywood, comentou-se enormemente o plano macabro de Manson, uma figura rara. Nascido em 12 de novembro de 1934, em Cincinnati, no norte dos Estados Unidos, filho de uma jovem de 16 anos, o menino sequer conheceu o pai e da mãe nem se fala. Adulto, começou a formar a sua grei, com mulheres ingênuas e perdidas, que viviam à margem. Então instalou o seu harém familiar, que gerou muitos bebês. Cuidou de ter ao menos um filho com cada uma de suas adeptas e, para maior enlevo de todos, a droga circulava naturalmente na vivência coletiva. 

Segundo versões fidedignas, Charles Manson incentivava os assassinatos para provocar a explosão de descontentamento entre brancos e negros, batizando o programa de “Helter Skelter”, título de uma das músicas de sucesso dos Beatles. Daí, o liame de ideias na época, que incentivavam mais do que “paz e amor”, pelo que se depreende.

Entrevistado na prisão, ao ser perguntado que conselho daria aos jovens, ensinava, por detrás da sua barba grande e revolta: “deixem uma marca para que o mundo saiba que estiveram aqui”. No caso de Sharon, quando já se dizia a reencarnação de Cristo, a inscrição foi de um vocábulo único: “Pig”. Identificava-se?

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