Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

O medo do futuro

19/10/2017 às 20:33.
Atualizado em 02/11/2021 às 23:18

Não se negam lampejos na economia brasileira, com trovoadas não muito correspondidas por belas pancadas de chuva. Na capital, uma pesada chuva, de curta duração, e foi-se. O Brasil não quer tempestades. Mas o FMI aumentou a expectativa do PIB para 2018, o que poderá nutrir a campanha política que já se aproxima. 

Enquanto o cidadão penará para pagar a conta de energia que o Correios trará, já é válido e alto o reajuste de combustíveis e o novo preço do gás de cozinha. Neste interim, o jornal que o leitor tem à mão noticiou a existência de muitas ambulâncias do Samu abandonadas na Região Metropolitana. E o povão, aflito, pede assistência.

Não sofre solução de continuidade, contudo, o ofício árduo dos bandidos atuantes em todo o país, subtraindo ou deixando estragos em bens dos cidadãos que pagam tributos. Tem também sequência a morte dos brasileiros (ou não) que ousam possuir alguma propriedade, qualquer que seja, ou espairecer-se pelas ruas nas tardes cálidas. Os criminosos sabem o que fazem, como aconteceu na pacata cidade de Capitão Enéas, acordada pela madrugada com tiros por todos os lados. Virou rotina na região. Em 29 de setembro, a PM mostrou as armas pesadas e explosivos, bem como parte do dinheiro roubado do Banco do Brasil num matagal. Eram pistolas 9mm, duas submetralhadoras, fuzil, pistolas. Essa gente anda prevenida. Os agentes da alei têm de entrar em ação a qualquer hora e circunstâncias, precisando de arsenal condizente para enfrentar a bandidagem.

Coisinhas

Observe-se: levantamento da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro revela que o roubo de cargas já causou prejuízo de mais de R$ 250 milhões nos últimos 6 meses em Minas Gerais. O Estado ocupa o terceiro lugar em ocorrências no gênero, atrás de São Paulo e Rio. A pesquisa indica também que entre 57 países, o Brasil é o oitavo com maior risco para roubo de carga, à frente de países em guerra e conflitos civis, como Paquistão, Eritreia e Sudão do Sul. Ainda bem que estamos em paz: Estamos? Quantos são mortos a tiros e facadas ou nas rodovias? O mais grave é que temos um lampejo, somente um lampejo, em meio à escuridão da noite no pântano. O homem deste país vê a televisão para saber as notícias e, sem mais assombro sequer, ouve, o relato dos desatinos e tragédias de todos os dias. Não há gente sensata e honrada que não perca o sono após desligar o vídeo, já antecipando os efeitos ainda piores (?) do que terá à frente.

O farto noticiário sobre a programação artística dá ideia de que a maioria possa ir às casas de espetáculos, contando com o salário diminuto, mas até isso é repetidamente inviável. É inegável que nos tornamos pessimistas e descrentes. Evidentemente me refiro aos que ganham ínfimas diárias, sem esquecer os milhões sem trabalho, nem salário.

A criminalidade, avassaladora, anda solta e invencível, porque está em todos os ambientes e tempo. Dentro dessas perspectivas, caminhamos inexoravelmente a enfrentar a ameaça de agravamento da situação neste acampamento em que nos transformamos, assunto imenso e permanente para a imprensa, que não pode ser responsabilizada pela situação de medo e vergonha de agora.

Como se pouco fora, eis que surge inesperada portaria sobre fiscalização do trabalho escravo nestes 5 milhões e 500 quilômetros de extensão. O problema, como inúmeros outros, irá para os gabinetes do Judiciário, se não revogados os novos dispositivos com urgência.

Tem razão Galba Velloso, ex-ministro do Tribunal Superior do Trabalho. “Os meios que o presidente usa para se defender constituem novas irregularidades...”.

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