Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

O riso que se perde

29/11/2017 às 17:59.
Atualizado em 02/11/2021 às 23:57

Crescentemente me inquieto. Pelas folhas, tomo conhecimento de que Tiririca anuncia que não disputará reeleição ano que vem. “Totalmente decepcionado” com a política após dois mandatos, conquistados com votações recordes”, ele é peremptório: “Não volto”.
Acrescenta: “Esperava chegar aqui e aprovar projetos, mas a mecânica daqui é complicada”. Sem sequer um único discurso, promete só falar, no final do mandato, “despedindo-se da galera”.

Verdadeiramente, não acho qualquer graça de coisas que ora acontecem no pedaço de terra descoberto por Cabral, o Pedro Álvares, séculos depois território de que se apossou ou em que se empossou – outro Cabral, o Sérgio, ex-governador, preso em local muito próprio: Benfica.

Não é, sem embargo, para rir. No último dia 22, a humorista Cláudia Rodrigues foi internada no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, às pressas. Um excelente estabelecimento, por sinal. Ela sofreu um surto de esclerose múltipla, e – segundo sua empresária – não havia previsão de alta. Seu estado de saúde não era dos melhores, tanto que recolhida a isolamento, embora lúcida e respirando sem ajuda de aparelhos.

Pelos corredores, os indefectíveis comentários. O episódio resultaria de baixa imunidade, após contato com alguém com catapora. Nestas horas, apressa-se em opinar e dar palpites, provando a tese de que todos temos de médico e louco, um pouco. Alguém lembrou que a artista também sofrera de herpes zoster, “que estourara por dentro e por fora”. Acrescentava-se que corria o risco de ficar cega, como revelara a empresária. Tudo evidentemente a esclarecer pelos médicos, que procuravam definir um diagnóstico seguro.

Os humoristas não devem achar bons o capricho e as contingências da hora. Pois aconteceu na mesma data. O humorista, cantor e compositor Moacyr Franco, há 20 anos no programa “A Praça é Nossa”, do SBT, foi demitido pela emissora de Sílvio Santos. Ele já apresentara “A mulher é um show”, em 1986, voltando no ano seguinte para o “Concurso de Paródias”.

Não parou por aí o artista de Ituiutaba, pontal do Triângulo Mineiro, maior produtor de arroz do Brasil em determinada época. Naquela televisão, atuou nos seriados “Ô... Coitado” (1997–1999), com a também mineira Gorete Milagres. Em seguida, em “Meu Cunhado” (2004–2006) e, desde 2005, no “A Praça é Nossa”, interpretando o caipira Jeca Gay, que me perdoem a cacofonia.

Carlos Alberto de Nóbrega se disse bastante abalado. “Somos amigos há 62 anos. Quando soube que ele seria cortado, foi um choque. Eu disse à direção da casa que não conseguiria dar a notícia, porque iria começar a chorar na hora. Ele é um dos artistas mais injustiçados no nosso país. Ele é um gênio, tem uma versatilidade como poucos. É um ótimo ator, humorista, escreve muito bem, é um poeta, canta muito bem... Era um absurdo ele ter somente cinco minutos de participação na Praça. Mas a empresa não é minha, e a decisão também não foi minha. Estou muito triste”.

Os fatos os demonstram que a situação é séria, mesmo entre os que ganham para fazer as pessoas rirem. Ridendo castigat mores. Fica claro que vamos perdendo os ases dos que contam anedotas e fabricantes de risos e gargalhadas. É uma constatação profundamente desagradável nesta hora em que as más notícias prosperam.

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