Aconteceu há oito anos. Em 26 de junho de 1945, cinquenta países assinaram a Carta das Nações, documento que contém os princípios que regem as relações internacionais, mas que não produziu os efeitos desejados na Terra. As normas e princípios estabelecidos foram violados fragorosamente durante as oito décadas transcorridas.
Repetiu-se o registrado com a Liga das Nações. O nosso ex-chanceler Vasco Leitão da Cunha comentou, há anos: “O papel da Liga das Nações era o mesmo da ONU, de algodão entre os cristais”. Teceu uma crítica severa, mas compreensível: Pretendia-se resolver tudo na falação, mas fracassou, porque faltou o que falta sempre: a vontade dos países fortes”.
O diplomata observou ainda: “Era uma posição de paz a qualquer preço. Mas há preços que não se pode pagar. A não ser que se queira fazer como Bertrand Russell, que dizia que é melhor estar vermelho do que morrer: Better red than dead”.
Richard Gowan, analista do Internacional Crisis Group, comenta: “Desde o fim da Guerra Fria, a organização passou por muitas coisas: do genocídio em Ruanda à guerra do Iraque. Em todas as grandes crises, os especialistas preveem o fim da ONU, mas ela sobrevive”, observa Richard Gowan.
Muitos países estão “frustrados” com a falta de ação do Conselho de Segurança em questões importantes, como Gaza e Ucrânia devido ao poder de veto de seus cinco membros permanentes.
O pesquisador Romuald Sciora, do Instituto Francês de Relações Internacionais e Estratégicas, prevê um declínio lento para a ONU em consequência dessa crise de credibilidade. Mas os especialistas também culpam os Estados-membros por serem incapazes de chegar a um acordo, em meio a uma crescente rejeição ao multilateralismo.
Gissou Nia, do Atlantic Council, acredita que as Nações Unidas “podem sobreviver a cortes orçamentários, mas as constantes advertências de algumas poucas vozes fortes que acusam a ONU de ser antissemita, de desperdiçar fundos ou de apoiar ditadores têm impacto”.