Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Os alfarrábios de Lola

14/08/2017 às 06:00.
Atualizado em 15/11/2021 às 10:03

O convite está à mão. Para lançamento do livro “Meus Alfarrábios”, de Lola Chaves, em 18 de agosto. Quem expediu: o Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, que, em parceria com a Secretaria de Municipal de Cultura, organizou o ato. Não poderiam faltar o Grupo de Serestas Amo-te Muito e o Grupo de Choro do Cerrado do Conservatório Lorenzo Fernandez, e direção musical de Luciano e Rachel Uchôa. 

As informações possivelmente se prestassem mais à editoria de arte. Perfeitamente. Até porque o local da festiva reunião será o Centro Cultural Hermes de Paula, na Praça Dr. Chaves, em Montes Claros. A propósito, o desembargador Hélio Costa, ex-presidente do Tribunal de Justiça do Estado, homem culto, poeta parnasiano, sentado ao meu lado, gostava de enfatizar a significação da cidade no âmbito da modinha e da seresta. Nem só Diamantina é seresteira. E o dr. Hélio, nascido em Sabará, excelente autor de discursos solenes, sabia das coisas.

Lola Chaves é filha de João Chaves, nascido em 1885, também poeta e compositor, que só não recebeu diploma na Escola Normal Oficial, porque o estabelecimento foi suprimido. Fundou um semanário “A Palavra”, onde publicou elogiados artigos e crônicas e seus primeiros versos. Tomou novos rumos no mapa, mas atuando como advogado e jornalista. Ao regressar, lançou “O Sol”, no mês de agosto, em 1914. Abriu um curso de música digno e dirigiu a primeira orquestra da cidade- não era banda. Isso há quase um século, época em que se elegeu vereador à Câmara Municipal.

Poesia e música impregnavam a individualidade do advogado-jornalista, que transmitiu como herança à descendência. Suas criações são ouvidas nas noites de serestas ou incluídas no repertório de grandes corais, como o Madrigal Renascentista. A modinha “Amo-te Muito”, um clássico no gênero, foi cantado no filme “Revolução em Vila Rica” e ele é autor de um livro de poesias, que não sei se editado. O grupo de serestas que ganhou seu nome tem percorrido terras daqui e do velho continente, apresentando-se com encantamento a exigentes plateias.

Lola Chaves é uma das filhas do querido bardo e exerce a curadoria de sua produção musical e literária, verdadeiras relíquias. Em junho, transferiu-se de vez a outro plano Lígia Chaves, a irmã, grande letrista e intérprete, autora de “Senhora de Guadalupe”, primorosa criação de fé. Foi uma tarde triste, mas serviu para receber demonstrações de carinho e amor. Junto à lousa simples que já abrigava o poeta, a esposa e três filhos, ouviu-se “Amo-te Muito” e “Tão longe, de mim distante”, esta de Bitencourt Sampaio. Em gravação, a própria Lígia se despediu com a música de sua autoria, diante de dezenas de pessoas consternadas. 

João Chaves, o cidadão a que me refiro, pai de Lola, pertence à família que exerceu enorme influência intelectual, política e cultural na região. O patriarca Antônio Gonçalves Chaves foi governador de Santa Catarina, Espírito Santo e Minas, redator do capítulo do Direito de Família no Código Civil, elaborado por Clovis Bevilacqua. O próprio autor o classificava como “meu mestre”.

O que estará revelando a escritora Lola em seus “Alfarrábios?”

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