Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Os ensaios de Rennó

01/08/2016 às 19:08.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:06

No princípio, era a paróquia do Carmo do Pouso Alto, por força de Decreto Imperial de 14 de julho de 1832, para – cinquenta anos após – receber o nome de Carmo do Rio Verde por lei, como ensina Joaquim Ribeiro Costa, em seu “Toponímia de Minas Gerais”. Há 115 anos, em 1901, tornou-se município e vila sob nome de Silvestre Ferraz, também por lei, compreendendo os distritos da sede e de São Lourenço. Em 1937, perdeu a hoje celebrada estância hidromineral, assumindo finalmente a nova denominação em 1953.

Vou redigindo este texto para dizer que ali nasceu Elizabeth Fernandes Rennó de Castro Santos, presidente da Academia Mineira de Letras (AML), em sucessão a Olavo Romano, que introduziu nuances novas no colorido da entidade fundada em 1909, em Juiz de Fora.

O imenso caudal de livros que as editoras lançam sistematicamente no mercado não permitiu que, antes, pudesse ler esse “Post-Scriptum” de Elizabeth Rennó, publicado pela Anome, por ocasião do centenário da AML. São ensaios, todavia, que permanecem atuais, tal a relevância dos temas que merecem interesse de quem sabe escolher. 

A autora já andou pela prosa e pela poesia, sendo ensaísta, aliás, de primeira linha. No livro referido, dedica-se ao gênero, a que está perfeitamente credenciada pela cultura e pelo escritura límpida, pelo conhecimento da língua. “Post-Scriptum” nos põe em contato, assim, com quem já tem editados livros de alto valor histórico e literário. Não sem razão, a autora conquistou, em 1985, o título de mestre em literatura brasileira, com a dissertação “A Aventura Surrealista de Lêdo Ivo: Intenção e Descoberta”. 

Ensaio exige agilidade de espírito, sem pretensão de esgotar o tema, informando e comentando, despertando atenção por estudos mais aprofundados. Há o tom da familiaridade com o leitor, tão frequente nos escritos assim classificados. É oportuno lembrar que o nome “ensaio” foi usado pela primeira vez por Montaigne, significando o que há de precioso no pensamento humano e na humana razão. 

Em duzentas páginas, Elizabeth Rennó nos regala com uma cesta de assuntos, pessoas, fatos e livros, que nos satisfaz intensamente. Nem poderia deixar de ser, pois focalizados Milton Campos, Domingos Carvalho da Silva, João Cabral, Lacyr Schettino, Adélia Prado, Santos Dumond, Agripa Vasconcelos, Aníbal Mattos, João Alphonsus, Henriqueta Lisboa, Lêdo Ivo, mineiros e não mineiros, que bem representam as letras brasileiras. 

O volume começa realçando a herança portuguesa na língua do Brasil, tema que não pode, nem deve, ficar circunscrito aos estudos universitários e a outras épocas. e por estarmos incessantemente sentindo, pensando e vivendo a língua aqui. O mundo luso-português ganhou dimensões novas e maiores, com os modernos instrumentos de comunicação. Falar bem constitui imposição, que não podemos ignorar. E, se há um espírito nacional brasileiro relativo ao meio físico e social em que vivemos, temos de escolher as melhores leituras. “Post- Scriptum” é plenamente aconselhado.

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