Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Os ousados verdes de Cataguases

12/07/2016 às 17:35.
Atualizado em 16/11/2021 às 04:16

Ronaldo Werneck, convidado especial das Carmelitas, participou das festas de centenário do tradicional Colégio Nossa Senhora do Carmo, em Viçosa. O prestigiado poeta e homem de cinema, nascido em Cataguases, foi à terra de Artur Bernardes, lançar “o mar de outrora & poemas de agora”, na Feira do Livro e para palestra. Lembrou anterior visita à cidade e lembrou que, em 1926, se editou ali o jornal “Cataguases”, uma espécie de prenúncio da “Revista Verde”, no ano seguinte. 

O segundo periódico despertou a atenção do Brasil para Cataguases, antiga Meia Pacata, ou seja, o Curato de Santa Rita do Meia Pacata, criado por decreto imperial de 1832. A propósito, publicou-se recentemente a terceira edição de “A história do movimento Verde em Cataguases”, de Luiz Carlos Abritta, personalidade de nossos meios jurídicos e literários, presidente do Tribunal de Ética da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção Minas Gerais, presidente emérito da Academia Municipalista de Letras, e da Academia de Letras do Ministério Público, títulos que, entre outros, muito honram sua biografia.

Cataguases, com a “Revista Verde”, demonstrou alinhamento com ideias que surgiram, com as perspectivas e anseios que o século XX impregnaria o novo tempo. Não era algo que acontecia apenas em escala mundial, como a Revolução de Russa de 1917, a obra de Freud, as primeiras aventuras aéreas e etecéteras.

Jovens, mal saídos dos bancos ginasiais, como escreveu Abritta, estavam prontos e dispostos a embates e debates. Agiram ousadamente e, assim, entraram para a história literária brasileira. Os rapazes eram Enrique de Resende, Ascânio Lopes, Rosário Fusco, Guilhermino César, Christófaro Fonte-Bôa, Martins Mendes, Oswaldo Abritta, Camilo Soares e Francisco Inácio Peixoto.

O manifesto é curto e grosso, como hoje se diz, mas educado. Um grito de independência, com sete princípios básicos, em resumo.

O que pretendiam os jovens de 1917 ? “1º: Trabalhamos independentemente de qualquer outro grupo literário; 2º: Temos perfeitamente focalizada a linha divisória que nos separa dos demais modernistas brasileiros e estrangeiros; 3º: Nossos processos literários são perfeitamente definidos; 4º: Somos objetivistas, embora diversíssimos uns dos outros; 5º: Não temos ligação de espécie nenhuma com o estilo e o modo literário de outras rodas; 6º: Queremos deixar bem frisada a nossa independência no sentido “escolástico”; 7º: Não damos a mínima importância à crítica dos que não nos compreendem. É só isso”.

Pois o livro de Luiz Carlos Abritta merece objetivo convite à leitura, justificando a observação de Delson Gonçalves Ferreira: “Tanta presunção e ousadia, só mesmo de moços...” E tem razão o autor. Como, em outras palavras, observou Elizabeth Rennó, presidente da Academia Mineira de Letras: “Apesar de não se mostrarem arautos de uma revolução social, os mineiros da Verde expunham o drama das fazendas e lavouras abandonadas e decadentes e previam o desenvolvimento que chegaria através da era industrial de uma nova prospecção”.

Assim, os meninos de Cataguases chegaram até nós, com seu talento e ousadia.
 

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