Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Palavra de sílaba única

Publicado em 06/06/2023 às 06:00.

Não assisto com rigorosa tranquilidade à vida do brasileiro nestes dias, que podem ser comparados aos dos últimos meses do quatriênio de Bolsonaro e os dos primeiros dias de 2023. Afinal de contas, o Brasil não parou para contemplar o transcurso do tempo, que me parece ainda carregado de pesadas nuvens. Oito de janeiro não se transformou num marco limitante de dois períodos da vida nacional. Pelo contrário, permite enxergar melhor o ambiente de refregas anteriores não decididas.

Inquietos, acompanhamos os fatos que se marcaram pelos antagonismos nas frentes de decisões políticas, sem vislumbre de paz. No entanto, o presidente brasileiro defende o fim da guerra da Rússia contra a Ucrânia, como se estivessem na época dos tsares; um conflito insensato deflagrado por Moscou há mais de um ano. São mais de doze meses sem sequer o telefonema mágico com a palavrinha paz, em português com apenas três letras. Não há possibilidade de avaliar o mar de sangue que se terá derramado naquela emblemática e problemática região do planeta que habitamos. Mas, engana-se Lula ao pregar a pacificação no front externo, se não a conseguimos em âmbito interno. As posições adotadas pelo governo até agora não conseguiram sensibilizar os partidos políticos em termos necessários, como se depreende da votação de medidas provisórias no Parlamento.

A reunião de presidentes latino-americanos no Itamaraty não ampliou o prestígio do Brasil no campo internacional. Ao receber o diretor Maduro em Brasília, Lula não conseguiu senão aclarar a aversão que os demais países nutrem pelo governante de Caracas e seu sistema ditatorial de gerir os negócios de Estado. E todo o mundo conhece o que acontece na Venezuela como na Guatemala.

Assim como os ucranianos protestaram em Portugal pelas declarações de Lula sobre a guerra naquele pedaço de mundo, tratando vítima e agressor do mesmo modo, também o presidente brasileiro foi alvo de duras críticas pelo ostensivo e privilegiado tratamento oferecido a Maduro, nas horas em que esteve em solo nacional.

Pelas declarações do diplomata Marcos Azambuja, na noite de domingo último pela televisão, depreende-se que o chefe do governo brasileiro terá de reavaliar suas posições em relação a Caracas. Enquanto Maduro se mantiver como até agora, não haverá possibilidade de a paz se estabelecer abaixo das margens do Rio Grande.

A palavrinha “paz” anda longe.

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