Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Passarinho na muda

15/11/2018 às 16:26.
Atualizado em 28/10/2021 às 01:51

Cá em Minas comumente se diz que passarinho na muda não canta. No entanto, nesta hora de transição de um governo para outro, a boataria se espalha, os palpites ganham força e dimensão, as balelas se ampliam sob as mais várias intenções e em todos os sentidos. Os passarinhos não se aquietam, talvez na expectativa de serem ouvidos e encontrarem pouso em bom lugar ao sol da nova administração. 

Em hora tão importante, porque tão sensível, delicada, porém causa estranheza a posição do deputado federal mais bem votado do país ao considerar a ameaça de invasão de terras pelo MST, tipificando o ato como terrorismo. A expressão de S. Exa. me pareceu altissonante, esdrúxula e dispensável: “se fosse necessário prender 100 mil pessoas, qual o problema?”. Cai-se na mesma situação de boquirrotos, que nada têm a perder neste momento. Ninguém a são juízo quer ver o circo pegar fogo.

Amigo velho, sempre na lida de imprensa, advertiu que palavras são peças de cristal, da Bohemia, perigosas quando colocadas nas vitrines, tênues proteções. Enfim, todos estão de olho no que dizem as figuras mais eminentes que poderão assumir a gestão dos negócios nacionais em menos de dois meses. O mundo vigia o Brasil e seus futuros governantes, e não se pode dar com os burros n’água. No interior mineiro, comum é ouvir-se que quem fala demais dá “bom dia” a cavalo.

Os brasileiros, simplesmente por sê-lo, já andam ressabiados. Principalmente porque, em termos absolutos, somam 62 milhões os com dívida em bancos, operadoras de cartão e financeiras há mais de noventa dias. Seu futuro dependerá das soluções na área econômica a partir de janeiro. Significa: mais da metade da população do país está com o “nome sujo” no SPC Brasil. Não vale a pena aventurar.

Ninguém quer passar os apertos e correr os riscos do peão do rodeio de Guaimbê, interior de São Paulo. Não conseguiu suster-se no lombo do touro, caiu na arena e foi por ele pisoteado. Não teve salvação.

Estamos todos sob risco, maior ou menor. Tanto que o Gabinete de Segurança Institucional da República decidiu comprar novos carros para a escolta do presidente, quando ele assumir. Serão 30 veículos, dos quais 12 blindados, que custarão R$ 5,5 milhões. Melhor prevenir.

Estamos cercados por malfeitores de toda espécie e com muito mais poder de fogo que o oferecido por nossas seguranças. O próprio presidente eleito sofreu na pele nossa fragilidade. Roubos espetaculares, execuções, tiroteios, carros-bomba, assaltos, sequestros. Não é adequado inventar mais desafios e fazer afrontas, embora reconhecendo que as ameaças precisam encontrar combatentes à altura, na hora propícia.

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