Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Perigo à vista

Publicado em 28/10/2025 às 06:00.

Estamos falando sério, não é brincadeira. O Brasil decidiu tomar providências consistentes com relação aos jumentos, que não se resumem àqueles expostos ao final de cada ano nos presépios na época natalina. É tradição das mais belas do período, reverenciando o nascimento de Jesus. Mas a iniciativa governamental recente partiu de outros pressupostos.

Entre 1999 e 2024, o Brasil registrou uma queda de 94% na população de jumentos, passando de 1,37 milhão para cerca de 78 mil animais, segundo levantamento da organização The Donkey Sanctuary com dados da FAO, IBGE e Agrostat.

O declínio se acentuou a partir de 2018, quando o país passou a autorizar o abate comercial desses animais, principalmente na Bahia. Estima-se que mais de 248 mil jumentos tenham sido abatidos desde então.

A pele dos jumentos é usada para produzir ejiao, uma substância valorizada pelo mercado asiático. O comércio é altamente lucrativo. Cerca de 5,9 milhões de jumentos são abatidos por ano, que movimenta cerca de US$ 6,4 bilhões. No Brasil, a pele de um único jumento pode chegar a custar até US$ 4 mil. O preço do animal vivo, impulsionado pela escassez, saltou de cerca de R$ 100 para até R$ 500 no interior do Nordeste. O crescimento dessa demanda pressiona o rebanho nacional, tradicionalmente ligado a atividades rurais e à cultura do seminário. O risco de extinção é considerado real por especialistas, que apontam que, se a tendência atual continuar, os jumentos podem desaparecer do território brasileiro até 2030.

Para debater soluções, a Universidade Federal de Alagoas sediou, entre 26 e 28 de junho, o 3º Workshop Internacional “Jumentos do Brasil: Futuro Sustentável”, com foco em alternativas ao abate e conservação da espécie.

A pauta também chegou ao Legislativo. Dois projetos de lei – um federal e outro estadual – propõem a proibição do abate desses animais.

Diante da realidade, um jornalista atuante na cobertura de trabalhos em parlamento, indagava: “se houver realmente esse declínio e até o fim dos jumentos no país, haverá um esvaziamento ou redução drástica do legislativo. É, efetivamente, uma ameaça altamente perigosa a um dos poderes da República”.

Ou não?

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