Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Política externa

29/09/2020 às 17:19.
Atualizado em 27/10/2021 às 04:40

O Brasil sempre quis levar uma política externa independente, sem se inclinar à Casa Branca. Lauro Muller, nosso chanceler, declarou que nosso país devia estar “com os Estados Unidos, mas não a reboque”. Vasco Leitão da Cunha, diplomata de carreira, defendia não ser necessário subserviência para ser aliado.

Um dos nossos embaixadores em Washington lembrava, há alguns dias, que entre países não há amigos, há interesses, condição que obriga os chefes de governo e de Estado a se comportar dentro desses parâmetros.

Recentemente, o presidente de nossa República presidiu a solenidade de abertura de um alto forno da Usiminas, em Ipatinga. Os discursos de praxe, o Brasil retomaria o caminho da atividade econômica, e dias melhores viriam. Logo, o presidente da grande nação amiga ao Norte baixava instruções para sobretaxa ao aço exportado daqui. Muy amigos! Entre nós, aliás, há a lição: amigos – amigos, negócios à parte.

É também recente. Após a Casa Branca anunciar a suspensão de restrições a voos oriundos do Brasil, a embaixada norte-americana esclareceu que se mantêm as exigências anteriores para quem deseja entrar no país. Difícil entender.

Paulo Delgado evocou o embaixador Rubem Barbosa, então a serviço em Washington, quando se editou a doutrina de segurança nacional de George W. Bush, pela qual os do Norte passariam a reagir a qualquer ato que afetasse seus interesses. Afirmou Barbosa: “Em decorrência dessa visão, hoje o establishment americano considerou a China um adversário que fere os seus interesses concretos nas áreas comercial, tecnológica, militar e estratégica”.

O próprio Barbosa, de alto conceito no Itamaraty, observa que medidas negativas contra o Brasil foram adotadas, inclusive, a importação de 80% de nosso aço. Tio Sam renegou o candidato brasileiro à presidência do BID, pressionado sobre o etanol brasileiro para eliminar tarifas. Outro credenciado diplomata verde-amarelo, Marcos Azambuja, comentou: “O Brasil abandonou a visão de si mesmo como uma potência multinacional, multirracial, multi-ideológica, multirreligiosa, para ser um país sectário, correspondendo apenas a uma visão limitada do seu interesse imediato”.

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