Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Rasputina na Coreia do Sul

11/11/2016 às 21:01.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:37

Há cem anos, em dezembro, foi executado em São Petersburgo, na Rússia, Grigory Yefmovich Rasputin, lendária figura até hoje. Tinha 47 anos, nascera na Sibéria, um passado tumultuoso, mas chegou à capital no momento próprio a seus projetos. Conseguiu ingressar no círculo poderoso da aristocracia e da própria família real.

O soberano era Nicolau II, tímido e cordial, de quem era a esposa Alessandra, alemã, o fato gerador do clima de desconfiança, quando eclodiu a 1ª Guerra Mundial. O casal reinante tivera quatro filhas – Olga, Tatiana, Maria e Anastácia (apelidadas de OTMA), e o herdeiro do trono, desejado e necessário, foi o último a nascer. Hemofílico, Aleksei sofria crises sucessivas, a despeito dos esforços médicos. Naqueles períodos, o milagreiro Grigory entrava cem cena, conquistando o coração e a simpatia da imperatriz e encaminhando eventuais pedidos, inclusive de natureza política.

Tempo de guerra, de suspeição, de intrigas, de dúvidas sobre as atitudes do mujique que viera de longe (mesmo sem desejar aproveitar-me da crônica, é obrigação contar que tenho um livro sobre o tema: “Rasputin, último ato da tragédia Românov”). Aqueles dias de dor resultaram no assassinato de Rasputin num conluio de membros da família real e da aristocracia e, por que não dizer?, na própria queda da dinastia.

Entre os autores do homicídio, o príncipe Yussupov, casado com a princesa Irina, em cuja mansão se cometeu o crime, numa noite distante em que se usou até veneno para eliminar, sem sucesso, o polêmico personagem, finalmente morto a tiros, com o corpo atirado no rio Neva.

Embora existam muitos excessos nas críticas e perdurem dúvidas sobre a conduta de Rasputin, a verdade é que ele nunca foi boa bisca. À época do último dos czares, ele se tornou sinônimo de poder, devassidão e luxúria, incentivando a impopularidade da casa imperial.

Esse tipo de personagem resistiu há um século, a completar-se no mês que vem. Há muitos, porém, que agem ainda à sua maneira nos palácios e alcovas, bastando ler presentemente os jornais.

No mês de novembro de 2016, por exemplo, a ex-confidente da presidente Park Geun-Hye, da Coreia do Sul, viu-se denunciada por uma série de revelações.Essas sugeriam que Choin Soon-Sil, sua amiga de quarenta anos, a aconselhava em assuntos de Estado sem exercer função oficial ou ter habilitação em matéria de segurança, como aconteceu com Gregory Yefimovich durante a primeira guerra mundial. 

A última notícia que tive de Choin, apelidada de Rasputina, é que fora detida sob suspeita de tráfico de influência. Abriu caminho para um escândalo político de consequências imprevisíveis, mas em que o Brasil é lamentavelmente tão pródigo. As notícias que chegam de Seul sobre o caso são poucas, mas não se nega que algo de suspeito pode ter acontecido naquele pedaço do mundo. 

Enfim, onde há fumaça, há fogo, em qualquer lugar do planeta.

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