Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Se o circo pegar fogo

Publicado em 26/04/2022 às 07:00.

Daniel profeta de Israel, de origem real, cativo na Babilônia, viveu no ano 606 antes de Cristo, sendo educado no palácio do rei Nabucodonosor. Sobressaiu-se por sua cultura e inteligência entre os mais letrados de todo o reino. Alguns de seus textos sobre sua época aparecem nas “Profecias de Daniel”.

Trata-se, como se deduz, do outro Daniel, o que presentemente é notícia de todos os meios de comunicação no Brasil deste século. O de agora é o Silveira, deputado federal, condenado pelo Supremo Tribunal pelas ameaças feitas a ministros, pelo AI-5 da ditadura militar, por incentivar o fechamento da mais alta corte da Justiça do país, o que inevitavelmente conduziu segmentos importantes da população e a oposição à contraposição à decisão presidencial. 

Estamos num instante delicado e perigoso para a democracia pela qual tanto lutamos. A sorte está lançada e, mais uma vez, o cidadão é posto em prova. 

O ato de clemência do chefe do Executivo atiçou novamente o conflito entre as instituições. Houve uma medida inconstitucional, os mais celebrados juristas foram convidados a se posicionar esclarecer o brasileiro, que gostaria de ter paz, pelo menos isso, depois da Páscoa. 

O imbróglio não sai do Judiciário. O presidente baixou decreto concedendo graça para o deputado correligionário, mas o benefício é objeto de verdadeira celeuma, considerando o cômputo de acusações que pesam contra Daniel, o de aqui e agora. 

A matéria volta ao Judiciário, para ser apreciada e relatada pela Ministra Rosa Weber, que não é de muita conversa e pouca solução. A população aguarda, com bastante impaciência. Está exausta de viver em suspense, sobretudo quando se divulga que o presidente pretenderia estender idêntico favorecimento a outros deputados já julgados.

O veterano jornal Luiz Carlos Azedo observa: “É discreta, firme e equilibrada.... será a próxima presidente do Supremo, terá que liderar a corte se o circo pegar fogo durante as eleições”. 

Não há prazo para apresentação do relatório da ministra. Donde se conclui que a inquietude do cidadão com relação ao indulto ainda pode demandar bastante tempo. É muito difícil a vida que leva o cidadão brasileiro que se importa com os problemas de convivência pacífica entre os poderes, principalmente quando parece haver uma permanente indisposição entre os ocupantes dos cargos principais.

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