Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Seca no Sertão

Publicado em 12/10/2024 às 06:00.

Eis outubro, extremamente quente, aguçando a necessidade de que a chuva, tão longamente esperada, não mais demore. Vivemos um dos anos de maior calor em dezenas de anos, no Norte de Minas, na região do Rio Verde Grande, no Noroeste, pelas bandas do Jequitinhonha. Os moradores das cidades e dos campos rezam e estendem olhos distantes à busca de um sinal de água que caia do céu.

José Ponciano Neto, homem de ontem, sertanejo de hoje, especialista em acompanhar mudanças climatológicas, recorda tempos semelhantes, idos e sofridos. Período que exigia fé, em Montes Claros, penitências e procissões que percorriam longas distâncias até o alto do morrinho, onde estão hoje as torres de transmissão das rádios do jornalista e advogado Paulo Narciso, que captam e ampliam a súplica para que o sertão não seja olvidado das benesses das chuvas.

Senhoras e mocinhas, idosos e rapazelhos, se juntavam em lugares predeterminados e sabidos para a caminhada até o pé do cruzeiro, no ponto mais elevado. Avultava o número de pessoas, gente humilde no decorrer do percurso, de terra aquecida pelo calor solar.

Os mais antigos contavam a guisa de estímulo que, depois dos difíceis períodos de estiagem dos anos 30 e 50 veio a temporada saudável das chuvas, que enchiam os reservatórios e de fé as boas almas que criam em Deus. As orações eram um coro, crianças à frente dos adultos. Muitas vezes, antes de completar-se a novena da fé, a chuva caía.

Os peregrinos, convictos fiéis, carregavam nas mãos, latas e potes de barro com água e flores, pedras na cabeça e ramos de mato e capim, e a imagem da padroeira do Brasil. Houve uma vez em que, alcançando o alto do morro e começando as cantigas, desencadeou-se a protofonia de trovões seguida de ventania, com ventos muito fortes e gelo, obrigando os crentes a se abrigar, em algum lugar e da melhor maneira possível. Estava iniciado o tempo das chuvas. Naquele ano, os produtores rurais rezaram em agradecimento pela fartura de milho, feijão, arroz das baixadas e bois gordos. Para muitos, a fé está acabando e há os profetas da seca, que torcem para não chover. E há chamas por todos os lados e criminosos incendiários. Até quando?

A igrejinha foi construída, com muito sacrifício, por Dona Germana, procedente de Minas Novas, falecida em 15 de janeiro de 1902, tempo de chuva e esperança.

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