Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Silêncio por Getúlio

03/09/2021 às 17:13.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:49

Na terça-feira, 24 de agosto, registrou-se mais um ano da morte de Getúlio Vargas, que  deu fim à vida, pela manhã, trancafiado em seu quarto no Palácio do Catete. Os ânimos estavam acirrados até aquele dia e ficou mais tenso e ameaçador, quando se soube do suicídio.

Transcorridos 67 anos daquele fatídico 1954, não se ouviram em 2021 as mínimas notícias sobre o fato em qualquer meio de comunicação, nem se ouviu um mínimo comentário nas ruas ou em qualquer bar, ou boteco sequer, locais em que a população usa preferencialmente para suas manifestações.

Em sua mensagem última, no próprio aposento em que voltara o cano do revólver para o coração, o presidente declarara: “Eu vos dei a minha vida. Agora, ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História”.

O silêncio no aniversário de adeus dá ideia do que os homens e a posteridade reservam aos que partiram, quem quer que tenha sido ou feito. Como e qual o julgamento da História? Ou do futuro?

Poucos foram tão julgados ao longo da existência como Vargas. Ao deixar o Catete, após os 15 anos iniciados em 1930, era considerado o Pai dos Pobres por amplo contingente de brasileiros, mas outra ponderável parcela o julgava a Mãe dos Ricos. Poucos que passaram pelo governo na República terão sido tão amados, mesmo idolatrado. Quando seu corpo foi recolhido para o último descanso, tal o fragor público pelas vias da nação, que se temeu uma revolução, como aquela –ou pior- de 1930. Não houve.

Não se julgou aquele que terá sido o homem que mais fundamente marcou o cenário político brasileiro no século passado, mudando a nação sob numerosos aspectos e em praticamente todas as áreas, com sua “personalidade cheia de altos e baixos”, como observou Gilberto Freyre.

Getúlio voltou a sua São Borja, finalmente, para o repouso derradeiro, longe das refregas que lhe marcaram a vida desde o tempo de estudante. Não mais recebe um hino a suas vitórias, ou um clamor por suas dores. Agora apenas o silêncio.

Daí, o conselho que se dá a todos os homens: que sejam humildes. A humildade supera outras virtudes e qualidades, e há protótipos inúmeros na História. A saga de Vargas é um exemplo claro, nítido, cristalino. Todos saem da vida, pela mesma porta. O sexagenário que foi sepultado em São Borja era ainda bastante da criança que ali nascera décadas antes.

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