Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Situações e números

30/12/2021 às 08:46.
Atualizado em 04/01/2022 às 00:16

Do ano que virou passado, fica o registro doloroso da diferença no Brasil daqueles que têm muito e dos que nada possuem. Em ruas e praças públicas, sob marquises e vãos de viadutos, nas grandes cidades e nas pequenas localidades, assiste-se ao espetáculo cruel, segmentos de uma sociedade injusta, que começa por não oferecer oportunidades iguais para os que nasceram iguais: seres humanos.

Os governos não conseguem atingir a totalidade desses grupos em penúria, inclusive na doença e na morte. Disso, tivemos comprovação clara nestes dias pretéritos, em que a solidariedade, a compaixão de alguns, mais abastecidos em bens materiais, não serviu senão para amenizar a dor, inclusive da fome, por um restrito lapso de tempo.

Elevados aos altos cargos, os cidadãos que receberam votos não têm conseguido ou podido reduzir as diferenças não mais adstritas ao material e cotidiano. As tentativas de eliminação deste quadro tenebroso não têm produzido resultados positivos e animadores.

O ano começa sob o signo da injustiça que repercute drasticamente, quando não terrivelmente, sobre verdadeiras castas de desprotegidos, que formam multidões sofridas socialmente, sem que possam nutrir sequer a esperança.

O mais triste é que grande parte, ou praticamente a totalidade de males que afetam ponderável parcela da sociedade, é mantida e patrocinada pelo próprio cidadão que paga impostos, mas não tem condições de acompanhar pari passu o que é feito com o recurso auferido e  sua utilização. Os pobres seguem pobres ou se tornam mais pobres, enquanto outros sobem os degraus aveludados das escadas do poder. As verbas públicas são afetadas por descaminhos, prejudicando a eficácia nos dispêndios sociais.

Quem lê jornais, livros, revistas, pode conhecer mais de perto os números, não memorizados pelos meios eletrônicos mais populares de comunicação. Mas, não custa saber, por exemplo, que US$ 618 milhões foi a soma do que os brasileiros gastaram em viagens internacionais somente em novembro. É quase o dobro dos US$ 329 milhões desembolsados em 2020, no mesmo período. Como?

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