Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Stalin, mais uma vez

15/06/2018 às 20:25.
Atualizado em 03/11/2021 às 03:38

Enquanto se busca identificação e prisão dos responsáveis pelas dezenas de ataques a bancos e estabelecimentos públicos no Brasil, bem como do “incendiamento” (a palavra é pouco usada cá no Brasil) de coletivos, as atenções se voltam para a Copa Mundial de futebol, na Rússia, mas sem o entusiasmo de outras competições. Pudera! Depois do fracasso de quatro anos atrás, em nosso próprio terreiro, não mais se tem a confiança anterior, embora não tenha fenecido a esperança.

Não sei se de propósito, São Paulo exibe “A morte de Stalin”, uma comédia um tanto sem graça, que – na opinião do crítico Inácio Araújo – é “uma maneira de contar uma história, não raro, escabrosa de maneira agradável”. Nem poderia ser de outro jeito e maneira, se considerar que o filme é britânico, com humor britânico, de modo que só se percebe “que se trata de uma comédia quando já se passou um terço de duração”.

Quem viu o filme comenta que, no princípio, Kruschev descreve, aos risos, como matava alemães presos após a batalha de Stalingrado. Não era motivo de riso, mas as lideranças políticas russas tinham sua maneira de ver e sentir.

Ademais, o final de vida do poderoso líder soviético já foi relatado inúmeras vezes e com inúmeras versões. Há exatamente três anos, por exemplo, lançou-se aqui o livro “A morte de Stalin”, sobre o episódio, em quadrinhos, traços e textos simples, tradução da publicação francesa.

Apresentado originalmente em Paris, em 2014, o livro mereceu prêmio como de melhor HQ no festival “Encontros com a História”. A obra narra em tom de sátira o clima de conspiração na União Soviética com o desaparecimento do líder, em 1953. Mas como teria sido mesmo a morte de um dos homens mais poderosos do mundo do pós-guerra? Enfim, Stalin era durão, porque duríssimo, exercia policiamento rigoroso sobre os que poderiam pretender sucedê-lo, enfim, sobre todo cidadão russo. Não se esquecerá da incessante perseguição ao seu principal adversário, Leon Trotsky, assassinado no México, com uma picareta de quebrar gelo, em 1940.

O domínio de Stalin, sucessor de Lênin, era ilimitado. Edward Radzinksy, autor de mais de um livro sobre períodos marcantes da Rússia, com o novo regime, descreve o final. Teria sido estrangulado por Kruschev, Beria e Malenkov. Nada disso, porém, correspondeu à verdade. Segundo Radzinky, o líder faleceu em consequência de um derrame, Acidente Vascular Cerebral, um AVC fulminante.

Svetlana, a filha, conta: “ele abriu seus olhos pela última vez. Sua aparência estava desfigurada. De repente, sua mão se levanta, parecia querer golpear algo no ar ou nos ameaçar. No momento seguinte, seu espírito, após um esforço final, rompe de seu corpo”.

Não só Radzinski considera que Stalin fizera nascer nas pessoas o sentimento de que eram vitoriosas, porque tinham uma sociedade única, como nunca houvera. Os muitos autores são unânimes: suas regras ninguém ousava desafiar e quem tentava não sobrevivia. Centenas de personalidades foram eliminadas, bem como mais de 5 milhões de famílias camponesas. I. Rybin e Dimitri Volkogonov contam não muito diferente: Stalin fora encontrado estatelado no chão, só de camiseta, calças e pijama. Não conseguia falar, mas levantava a mão. Às 5h50, em 5 de março de 1953, morre.
 

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