Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Um dramaturgo além do tempo

15/11/2016 às 10:42.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:39

Não é mera coincidência. Há razões superiores, muitas vezes não identificadas. Mas os fatos existem. No ano quatrocentos da morte de Shakespeare (como o é também de Cervantes), celebra-se aqui, com reverência, o centenário de nascimento de Mutilo Rubião, mineiro que veio lá do Sul do Estado, para consagrar-se como homem de letras na capital.

Há pontos de aproximação entre os personagens. Murilo fundou o Suplemento Literário de Minas Gerais, de que todos os que vivem nesta terra e amam as letras e artes, se orgulham. Em 2016, publicou-se, assim, um número especial do SL, cuja capa estampa o retrato do dramaturgo de Stratford-upon-Avon, pintado por John Taylor na metade do século XVII, quando eram ainda mais vividas as lembranças do bardo.

Mas, tem-se de convir com Bárbara Heliodora, ouvida em 2014, por Liana Leão, em entrevista inédita até aqui. A historiadora (falecida no ano seguinte), disse: “Willian Shakespeare é nosso contemporâneo porque o ser humano é o foco das atenções do poeta: ele observa o ser humano em todas as manifestações de seu potencial. Ele olha com a mesma curiosidade, a mesma compaixão, os que acertam e os que erram. Os que optam pelo bem, que Shakespeare significa ser favorável à vida, ou pelo mal, que para Shakespeare significa ser favorável à morte. Sua incansável curiosidade, e infinita compaixão, o fazem sempre presente”.

Para manter o alto nível deste número do Suplemento, impresso na IO, contou Ângelo Oswaldo de Araújo Santos, secretário de Estado da Cultura, com equipe de elevado nível, na qual atuam Lucas Guimaraens, superintendente de Bibliotecas Públicas e Suplemento, João Pombo Barile, Marcelo Miranda, não faltando excelente apoio e a contribuição valiosa do Conselho Editorial, composto por Humberto Werneck, Sebastião Nunes, Eneida Maria de Souza, Carlos Wolney Soares e Fabrício Marques.

No decorrer dos séculos, descobriu-se que Shakespeare não era um autor erudito, que não escrevia para as elites, palavra tão repetida mais recentemente e até estigmatizada. De fato, suas peças foram elaboradas e produzidas para entretenimento popular e continuaram com apelo à gente simples. Romeu e Julieta permanecem como jovens amantes, a angústia de Hamlet ainda retrata nossas angústias, apavorando-nos com o declínio do rei Lear e com a loucura. É comum em todos os países e situações citar “ser ou não ser” ou “o amor é cego”.

No tempo em que o dramaturgo veio ao mundo, no século XVI, lá na Inglaterra, o dia do nascimento não era registrado, fazendo-se a anotação do dia do batizado, aproximadamente três dias após. Como ele faleceu 52 anos após o nascimento, no dia 23 de abril, tornou-se costume designar-se esta data como seu aniversário.

Há os que ouviram falar, os que já viram alguma de suas peças, os que talvez o menosprezem e os que o idolatram. Mas Shakespeare existiu e vive, quatrocentos anos após a morte. Seus restos estão depositados em um túmulo, à esquerda do altar da Igreja da Santíssima Trindade, em sua cidade natal.

Para Charles Nicholl, biógrafo e historiador britânico, que investigou a vida do poeta, ele foi um homem de meia idade e viveu num quarto alugado na Silver Street, em Londres. No mesmo período, escreveu Macbeth, Tudo está bem quando termina bem e Medida por Medida, dentre outras peças.

A casa em que o poeta residiu em um quarto de aluguel na capital inglesa foi arrasada pelas bombas alemãs durante a Segunda Guerra Mundial e nunca mais foi erguida. Sem embargo, ele sobrevive.

© Copyright 2024Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por
Distribuido por