Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Um mês talvez decisivo

17/01/2018 às 15:32.
Atualizado em 03/11/2021 às 00:48

Um mês muito delicado o que começou, entre tantos que a nação atravessa em tempos mais recentes. O julgamento de um processo, em segunda instância, em que é acusado um ex-presidente da República, faz voltar as atenções para os votos dos desembargadores em Porto Alegre, no dia 24. 

No sentimento do homem brasileiro, vai-se mais do que julgar um ex-chefe de Executivo, mas todo o período que vem desde o fim do regime militar.  Evidentemente com ênfase para os escândalos que eclodiram no país nos últimos decênios. Assim será, porque se compreenderá que o cidadão, acompanhando de perto os casos, terá pelo menos ocasião de uma avaliação sobre o comportamento da sociedade nestes dias tumultuosos. Persiste uma réstia de esperança e de confiança de que se cumprirá a lei. O Brasil conhece nomes, que não são poucos, dos que se envolveram em falcatruas, que falta apurar integralmente. 

Em verdade, a nação se sente dilacerada em seu pudor, ética e tradições. O assoberbamento do número de ações nos tribunais em fase de investigações demonstra que andamos mal, mas o que falta chegar para conseguir justiça é muito maior, pois se tornou enorme o  seu volume. 

O brasileiro, arguto, não deseja passar por omisso ou conivente, mesmo pelo silêncio. A hora é difícil, todos o reconhecemos, mas não se pode caranguejar. No caso do notório grupo Joesley Batista, o jurista Yves Gandra se manifestou: “são os maiores corruptores da história do Brasil e receberam anistia penal completa. Isso me revolta. Este é um país para os espertos, não para os honestos. E tudo isso com dinheiro meu e seu. Passaram um atestado de imbecis a todos os brasileiros”.

Não obstante, os corruptores ainda podem ser punidos. Sanção não é castigo, mas mera obediência por aquilo que a sociedade, através de princípios e normas, estabeleceu para os que se desviaram da correta observância de primados  irreversíveis. Crimes não podem ser esquecidos, principalmente quando se sabe que os autores, por força de privilégios e ações espúrias, trabalhavam em benefício próprio, contra o interesse coletivo.

Há poucos dias, a Igreja Católica italiana se negou a celebrar um funeral público para um dos mais temidos e violentos chefões da máfia siciliana, Toto Rina, falecido aos 87 anos. A máfia está sob vigilância há décadas. Em junho de 2014, todos os membros da Ndrangheta, a poderosa facção calabresa, foram excomungados por Francisco, que não ignora o que ocorre até nos corredores do Vaticano.  Não longe, a Justiça alemã acusou um ex-guarda de campo de extermínio nazista de Majanek, suspeito de cumplicidade na morte de 17 mil judeus. O réu está com 96 anos.

Se idade fosse razão essencial para inocentar, os generais argentinos envolvidos na ditadura militar mais recente não estariam em julgamento, nem seriam condenados. É uma hora grave e nações terão de transpô-la para resguardar seu futuro. Há reptos por todos os lados e a insatisfação se generalizou. 

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