Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Uma questão de fé

16/04/2018 às 17:02.
Atualizado em 03/11/2021 às 02:22

Os elogios em alguns dos maiores jornais dos Estados Unidos, a começar pelo “New York Times”, que o classificou como best-seller nº 1, são um chamativo à leitura de “A vida e a época de Jesus de Nazaré”, no Brasil editado pela Zahar. O autor é Reza Aslan, nascido no Irã, de família muçulmana, transferido para os Estados Unidos, onde se formou em Harvard e na Universidade da Califórnia.

Tornou-se especialista em temas religiosos, estudou o Novo Testamento, o grego bíblico, história, sociologia, para enfim produzir algo de interesse e que poderia, talvez, influenciar uma aproximação de povos, tão marcados pela incompreensão e por divergências que geram o fanatismo. Na nota inicial, Reza diz que, quando tinha quinze anos, encontrou Jesus. 

Este o verbo - encontrar. Em seguida, explica-se: “Há 2 mil anos, disseram-me, em que uma terra antiga chamada Galileia, o Deus do céu e da terra nasceu na forma de uma indefesa criança. A criança cresceu e tornou-se um homem sem faltas. O homem tornou-se o Cristo, o salvador da humanidade. Por meio de suas palavras e ações milagrosas, ele desafiou os judeus, que se acreditavam os escolhidos de Deus e, em troca, os judeus o pregaram em uma cruz... Sua morte é o ponto central de tudo, pois seu sacrifício salvou todos nós do peso de nossos pecados. A história, contudo, não terminava aí, porque três dias mais tarde ele ressuscitou grandioso e divino, de maneira que agora todos os que acreditam nele e o aceitam em seus corações também jamais morrerão e terão vida eterna.”.   

O autor confessa dificuldades para elaboração de seu livro: escrever uma biografia de Jesus de Nazaré não é como escrever uma de Napoleão: parece a montagem de um quebra-cabeças enorme, com apenas algumas peças na mão; o grande teólogo cristão Rudolf Bultmann dizia que a procura pelo Jesus histórico é, no fim das contas, uma busca intensa, pessoal, íntima. Os estudiosos se inclinam a ver o Jesus que querem ver. Frequentemente veem a si próprios, como reflexo na imagem que construíram de Jesus.

Em pouco mais de 300 páginas, Reza consegue uma ampla reconstrução do tempo de Jesus e de sua personalidade, que varia segundo cada um, cristão ou não. O personagem, grandioso, é também polêmico,  e o escritor faz uma análise ampla e profunda dos Evangelhos. É também didático, pretendendo ser isento, pesquisou e quer informar, parecendo ansioso por transmitir o que conseguiu em seus estudos e transmiti-los límpidos ao leitor.

Ao confluir a apresentação, observa: “De fato se nos comprometermos a colocar Jesus firmemente dentro do contexto social, religioso e político da época em que viveu – uma época marcada por uma persistente revolta contra Roma, que iria transformar para sempre a fé e a prática do judaísmo, então, de certa forma, sua biografia se escreve por si própria”.

A conclusão: "O Jesus que é revelado nesse processo pode não ser o Jesus que esperamos, e ele certamente não será o Jesus que os cristãos mais modernos reconheceriam. Mas, no final, ele é o único Jesus que podemos acessar por meios históricos. Todo o resto é uma questão de fé.

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