Na sala ampla do provedor presidente da Santa Casa de Belo Horizonte, Saulo Coelho, contemplo quadros a óleo e fotos de lugares e personagens da história de Minas. O ex-deputado federal é apaixonado por política. Nem poderia ser de outro modo, se não se soubesse que nasceu em uma família de prestigiosas personalidades do Estado. Entre eles (e são muitos), seu pai deputado federal e governador, Ozanam Coelho; e o avô, secretário de Estado e senador, Levindo Coelho. Citar nomes e cargos exigiria muito espaço.
O que desejo focalizar é o rico acervo da sala, em que se destacam fotos de gente como Benedito Valadares, Alkmim e Juscelino, enfim pessoas que todos conheceram e já nas páginas da história. Num belo quadro, cujo autor não identifiquei, a casa, hoje de Saulo, a Fazenda das Palmeiras, em que nasceu no presidente Raul Soares, natural de Ubá, um predestinado à política, que faleceu aos 48 anos, colhido prematuramente pelas parcas, como João Pinheiro, que viveu apenas 48 anos e nos deixou quando no Palácio da Liberdade, em 1908.
Permito-me voltar ao passado, para referir-me à participação dos políticos mineiros na vida imperial, que foi intensa, do primeiro ao último instante, como enfatizou João Camillo de Oliveira Torres, e que não menos valiosa se provou com a implantação da República.
O que pareceria mais importante é que, da influência mineira na política do Brasil, nunca resultou uma linha rígida e única. Tanto que o próprio historiador de Itabira pergunta: “Seria uma influência conservadora, vivamente preocupada com a preservação da ordem, ou seria uma influência liberal, procurando incendiar os espíritos nos ardores de um liberalismo inflamado?”.
Nesta hora candente da política brasileira, em que exercem funções de relevo muitos mineiros nos três Poderes, conviria considerar que sólidos baluartes da Ordem nasceram em Minas. Os homens das montanhas de sempre estiveram atentos e acesos em torno do Estado e da nação. Nos dias difíceis do nascimento do Brasil como país independente – independência pela qual lutamos até hoje – tiveram papel importante mineiros, como José Joaquim da Rocha, marianense, um dos inspiradores e organizadores do Dia do Fico; João Severiano Maciel da Costa, futuro marquês de Queluz (focalizado em obra excelente de Miguel Gonçalves, que integrou a Academia Mineira de Letras), Manuel Jacinto Nogueira da Gama (quem não conhece o nome?), marquês de Baependi; João Gomes da Silveira Mendonça, marquês de Sabará e Felisberto Caldeira Brant Pontes de Oliveira e Horta, marquês de Barbacena, general e diplomata, ministro e senador, lembrado pelo seu conterrâneo Sóter Couto. A grande voz liberal, que se contrapunha a Pedro I, era o mineiro Bernardo de Vasconcelos, sem citar os que atuavam de batina, com eficiência e coragem.
No belo quadro da sala da Fazenda, sinto o reflexo de uma época, de uma geração de políticos da Mata Mineira, que contribuíram para mostrar a grandeza do Estado, sem esquecer evidentemente Artur Bernardes, de Viçosa, polêmico, que teve o mérito de bater-se em defesa de nossas reservas minerais e, também, construiu o pioneiro centro de pesquisa de câncer nas Américas, o honrável Instituto do Radium, que a Nobel Marie Curie veio conhecer pessoalmente.