Escolhas alimentares influenciam nossas emoções?

Publicado em 19/12/2024 às 06:00.

Melissa Luciana de Araújo*


A alimentação humana está em constante transformação. Alimentar é um fenômeno sociológico diretamente relacionado às nossas memórias e às interações com amigos e familiares. Essas relações humanas são entremeadas ao redor de almoços, cafés, lanches e jantares em diferentes contextos e com distintas finalidades, como celebrações, trabalho ou lazer.  

Nos últimos 50 anos, essas transformações nas práticas alimentares tornaram-se ainda mais expressivas devido à forte influência da indústria de alimentos. Este setor tem promovido frequentemente novos produtos com a promessa de praticidade e facilidade para o dia a dia das pessoas. Mas será que o consumo de alimentos ultraprocessados – massas instantâneas, embutidos, hambúrguer, bebidas açucaradas como refrigerantes e sucos, molhos prontos, biscoitos industrializados, comidas congeladas industrializadas e similares – pode influenciar as nossas emoções? 

Pesquisadores do Estudo NutriNet Brasil, iniciado em 2020 pelo Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (Nupens/USP), investigaram a relação entre os padrões alimentares e a saúde emocional. Foram selecionados 15.960 participantes adultos que, no início da pesquisa, não tinham diagnóstico ou sintomas de depressão. A população foi dividida entre os que consumiam mais ultraprocessados (38,9% do total de calorias ingeridas no dia) e menos (7,3% das calorias consumidas). Importante destacar que no Brasil, de acordo com a última edição da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) realizada em 2018, do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), os produtos ultraprocessados representam 18,4% da alimentação da população brasileira. 

Como resultados da pesquisa, os indivíduos que consumiam mais alimentos ultraprocessados tinham 42% mais sintomas depressivos - sentir-se um fracasso e anedonia (perda de prazer em fazer atividades habituais), e alterações como a mudança do peso corporal. Além disso, os pesquisadores também observaram um aumento de forma gradual de 10% de sintomas depressivos a cada 10% de alimentos a mais do tipo acrescentados na alimentação.

Diante disso, uma abordagem alimentar focada na construção da saúde e no bem-estar mental torna-se essencial. O trabalho de aconselhamento nutricional realizado pelo nutricionista é fundamental  para auxiliar em escolhas alimentares mais saudáveis, que considerem a realidade financeira de cada indivíduo, suas preferências alimentares sem modismos alimentares e capaz de manter o consumo majoritário em alimentos in natura ou minimamente processados.  De acordo com o Guia Alimentar para a População Brasileira, alimentos in natura e minimamente processados incluem cereais, grãos, carnes, laticínios, frutas, verduras, legumes, sementes e oleaginosas, que são essenciais para a prevenção de problemas de saúde, incluindo aqueles relacionados à saúde mental. 

Por fim, a busca pela saúde deve estar fundamentada em informações corretas sobre a ciência da nutrição, dialogadas com nutricionistas éticos e capazes de propor soluções viáveis e individualizadas sobre saúde e nutrição.

Quer saber mais? Acesse as publicações: 

Guia alimentar para população Brasileira:

* Nutricionista, Doutora em Saúde e Nutrição e Docente das Faculdades Kennedy e Promove de Belo Horizonte.  

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