Mauro Condé*
“Na vida, nada muda se você não mudar” Leila Navarro.
Acabo de voltar de uma viagem rumo ao conhecimento, usando como meio de transporte excelentes obras-primas da literatura.
Elas me levaram para a Milão de 1940, na Itália, onde fui recebido por Dino Buzzati, a quem fui logo pedindo:
Ensina-me algo que eu ainda não saiba e tenha o poder de mudar a minha vida para melhor.
- A vida é breve, portanto, não viva esperando pelas seis da tarde de cada dia, pela sexta-feira de cada semana, pelas férias de cada ano e nem pela aposentadoria de uma vida inteira para começar a viver.
Buzzati escreveu o clássico “O Deserto Dos Tártaros”, obra-prima onde contou com maestria a história de vida de Giovanni Drogo, um jovem tenente que, recém- formado, foi incumbido de assumir a defesa do seu país a partir de uma fortaleza situada numa área desértica e arenosa, a poucos quilômetros da planície dos Tártaros.
Apenas quatro meses depois de assumir seu posto, Drogo se percebeu descendo todos os degraus da escada da desesperança de sua vida, ao descobrir que o Deserto dos Tártaros ficava situado no fim do mundo, no meio do nada, onde a probabilidade de uma invasão inimiga era a coisa mais remota do mundo.
Desgostoso, ele procurou seu superior, que o convenceu a continuar vivendo no meio daquele marasmo por, pelo menos, mais uns quatro meses, até que um velho e emperrado processo burocrático pudesse ser vencido e ele transferido de missão.
Esta foi a pior decisão na vida daquele jovem tenente cheio de vida e de energia, pois o lento passar dos dias tratou de engolir a sua vida como um buraco, transformando o que era para ser a coisa mais provisória na coisa mais eterna de sua vida.
Ao longo de trinta anos e não quatro meses como prometido, Drogo foi se afundando para dentro da areia daquela terrível zona de conforto, cada vez mais distante da cidade, da sua família e dos seus amigos, perdendo até a sua pulsão de vida.
No final da história, dias antes de morrer, a ameaça da invasão dos Tártaros se concretiza, porém ele é impedido de lutar, por encontrar-se velho, decadente e incapaz de ficar em pé.
É substituído como uma máquina, deixando a sua vida passar em branco.
Nunca permita que o provisório se torne permanente na sua vida, resista - coloque um boné na cor laranja, calce meias coloridas e saia pelo mundo à procura do sentido da vida, antes que seja tarde demais.
*Palestrante, Consultor e Fundador do Blog do Maluco