A enxaqueca é a 10ª doença mais incapacitante para as atividades diárias, acometendo cerca de 15% da população mundial, conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, são aproximadamente 30 milhões de pessoas com o problema, e não faltam motivos para o desencadeamento de crises: estresse, obesidade, sono inadequado, jejum, alguns alimentos, cheiros fortes e tempo seco, dentre outros. O problema é tratado com medicações, mas as pessoas que sofrem de enxaqueca nem sempre respondem bem, devido aos efeitos colaterais. O tratamento cirúrgico de enxaqueca ganha espaço no Brasil como alternativa para que muitas pessoas possam retomar seu cotidiano normalmente, diminuindo ou eliminando o uso de medicamentos.
A dor de cabeça ou migrânea é um distúrbio neurovascular crônico, caracterizado por crises repetidas de cefaleia intensa que podem ocorrer com uma frequência bastante variável. Enquanto algumas pessoas apresentam poucas crises durante toda a vida, outras relatam diversos episódios a cada mês.
A enfermidade é ainda mais comum entre as mulheres, pois além de fatores ambientais e emocionais, também têm os fatores hormonais. Geralmente, a dor ocorre em um dos lados da cabeça, latejante ou pulsátil, durando de quatro a 72 horas e pode ser acompanhada de dor intensa, náuseas ou vômitos, tonturas, intolerância à luz (fotofobia), barulho (fonofobia), cheiros (osmofobia) e movimentos (cinetofobia).
A cirurgia foi criada e desenvolvida pelo cirurgião plástico Bahman Guyuron , em Cleveland (EUA), a partir do ano 2000. Através de um estudo sobre lifting facial e blefaroplastias (cirurgias plásticas de face e pálpebras), foi observado que a maior parte das crises de enxaqueca é desencadeada pela compressão e irritação da inervação facial e pela liberação de neurotoxinas mediadoras de dor, principalmente do nervo craniano chamado Trigêmio.
O processo identificou vários pontos na face que funcionam como gatilhos da dor de cabeça, principalmente, na região da testa (frontal), lateral da cabeça (temporal), nuca (occipital) e atrás dos olhos e nariz (cefaleia rinogênica). Os pesquisadores desenvolveram técnicas cirúrgicas de descompressão nervosa para cada ponto, constituindo a base do atual tratamento cirúrgico da enxaqueca.
O cenário nacional para tratamentos disponíveis está mudando e já vai além dos analgésicos comuns, incluindo anti-inflamatórios e vasoconstritores, isolados ou associados, para manejar a dor. O tratamento cirúrgico é uma arma poderosa no controle da frequência, intensidade e duração das crises.
Pedro Nery Bersan
Cirurgião plástico do Hospital Madre Teresa e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica