É dia do sorvete

Profa. Dra. Camila de Meirelles Landi*

O dia 23 de setembro marca o início da primavera e o “Dia do Sorvete”, data criada para celebrar uma das sobremesas mais famosas e apreciadas do mundo. Arrisco-me a dizer que o dia foi escolhido “a dedo” para incentivar seu consumo em uma estação tão adequada para o aquecimento desse setor e para estimular a degustação dessa deliciosa sobremesa gelada. Se bem que, para mim, todo dia pode ser dia de sorvete!

Com registros de origem na China há mais de 4.000 anos, feito a partir da mistura de leite de arroz com neve, o sorvete chegou ao Brasil pelo Rio de Janeiro, em 1834.

Desde então, quem resiste? Difícil, não é?

Meu querido amigo e referência na gastronomia, Dias Lopes, contou-me que, no Brasil, Dom Pedro II foi um grande apreciador da sobremesa, provando o gelado pela primeira vez em 1834, aos oito anos de idade. Os sorvetes eram feitos com gelos trazidos dos EUA em navios. Dom Pedro II adorava o sorvete de pitanga (nativa!), fruta colhida na época no atual bairro carioca de Copacabana.

A propósito, o gelo chegou pela primeira vez ao Brasil também em 1834, pelo porto do Rio de Janeiro. Vindo de Boston (extraído de um lago congelado), foi transportado pelo navio Madagascar, coberto de serragem, e durou cerca de cinco meses. Dias Lopes contou-me ainda que o primeiro sorveteiro foi um comerciante português chamado Lourenço Falas, que fazia sorvete com frutas locais: pitanga, manga e jabuticaba.

Sempre com demanda crescente no setor, os sorvetes se adaptam às tendências. Atualmente, a sazonalidade e a saudabilidade despontam como fatores de destaque. Frutas nativas, restrições alimentares, ingredientes funcionais, novas experiências sensoriais e texturas, bem como diversos benefícios nutricionais, têm ganhado espaço.

Está no Sudeste? Certamente sabores como capuccino, doce de leite, goiabada, tiramisù e cacau irão se destacar. Já no Nordeste, frutas como açaí, mangaba, tamarindo, cajá e caju estão entre as preferidas dos consumidores. No Norte, destacam-se tapioca, castanha-do-pará e outros sabores locais. Na região Sul, geralmente, sobressaem-se os clássicos e os sabores inspirados nos países vizinhos ou herdados da tradição dos imigrantes.

O sorvete se faz presente em ritos de comensalidade diversos: do passeio no parque à sobremesa do final de semana, nos dias quentes ou como o melhor acompanhamento para as telinhas.

Vamos celebrar o dia 23 de setembro e aproveitar os novos sabores e as diversas sorveterias que têm surgido no Brasil e no mundo. Até porque, dependendo de onde estiver, há a possibilidade de experimentar um de ovos moles ou de pastel de nata em Portugal; um de pistache com farinha de pistache moído nos países árabes; ou ainda doce de leite e frutas da Patagônia na Argentina, Uruguai e Chile. Enfim… clássicos não faltam por onde estiver!

*Pesquisadora e Docente Universitária. Gastróloga e Historiadora, especialista em História e Cultura da Alimentação e da Gastronomia