Mauro Condé*
“Comunicação não é o que a gente fala; é o que o outro entende” - Cristiane Condé
Acabo de voltar de uma viagem rumo ao conhecimento, usando como meio de transporte excelentes livros sobre cultura brasileira.
Eles me levaram para dentro de um botequim no bairro do Bixiga, em plena São Paulo de 1981, onde fui recebido por Adoniran Barbosa, a quem fui logo pedindo:
Ensina-me algo que eu ainda não saiba e tenha o poder de mudar a minha vida para melhor.
-Não leve a vida tão a sério, você nunca vai sair vivo dela mesmo.
-Faça pequenas mudanças em sua vida para se livrar dos seus maiores problemas.
Boêmio de carteirinha, fã de um “chope e dois pastel” ele se comunicava com o povo através do uso quase perfeito da linguagem coloquial.
Nasceu João Rubinato e para criar sua identidade artística resolveu pegar emprestado o nome do rapaz do correio que foi lhe entregar uma correspondência, assim que ele virou as costas.
Bon vivant do subúrbio, se destacava pelo sotaque caipira italianado e transformava todo drama e confusão que presenciava em samba.
Um dia, ouviu seu seu amigo Joca contar porque tinha sido visto sair correndo, tarde da noite, de uma casa das redondezas com as roupas na mão.
Descobriu que se tratava de uma teatralização que Joca sempre fazia para se livrar da amante que só o liberava para pegar o último trem para sua casa em Jaçanã, porque a sua mãe não dormia enquanto ele não chegasse.
Mal sabia a amante que o tal trem das onze era um trem fantasma que nunca chegou a existir, porque o último trem que saía da estação de Tamanduateí chegava pontualmente às 21.30h no seu destino e que Joca só corria para se unir à turma da farra da madrugada.
Foi o gancho que Adoniran usou para criar sua obra imortal Trem Das Onze.
Sua dor pessoal inspirou a canção Saudosa Maloca, no dia em que Adoniran abriu a janela de seu sobrado e tomou um susto ao presenciar a demolição da velha casa onde seus amigos Mato Grosso e Joca moravam de aluguel.
Nunca frequentou uma escola, mas fez amizade com os intelectuais que frequentavam as rodas de conversa no Brás e adorava tirar sarro da vasta inteligência e da cultura deles.
Um vez, ao fazer um trocadilho unindo o nome do famoso advogado Ernesto Paulielli com a palavra honesto, pariu o personagem Arnesto, o maior caloteiro imaginário do Brasil.
Ernesto morreu, jurando de pé junto nunca ter feito o tal convite aos amigos para a roda de samba e cerveja, mas feliz por ter sido imortalizado numa das letras mais cantadas do país.
Fazer o errado dar certo, esse era o jeito Adoniran de ser e de viver.
*Palestrante, Consultor e Fundador do Blog do Maluco.