O mundo está em crise. Mas e o Brasil?

Publicado em 07/04/2022 às 06:00.

Sânzio Cunha*

Em menos de um ano, o Brasil voltou a ser um país atrativo para a moeda estrangeira. Se em 2021 desenhou-se uma fuga de capital para outros países, no 1º trimestre deste ano a Bolsa de Valores de São Paulo fechou com saldo positivo próximo dos R$ 81 bilhões, trazidos por investidores estrangeiros. Foi cerca de R$ 1 trilhão injetado nas empresas listadas na B3 ante R$ 919 bilhões resgatados.

O bom momento do fluxo de capital internacional para o país tem explicações concretas: a taxa Selic ao patamar de 11,75% torna o mercado nacional bastante atrativo entre os acionistas, ainda que o dólar esteja em queda. Essa desvalorização da moeda americana no nosso mercado cambial, aliás, também é explicada pela entrada de recursos no país. Há exatamente um ano, o índice da Selic era de 2,75%, o que mostra uma forte intervenção econômica do governo na tentativa de conter a inflação.

Outra interferência que também vem sendo positiva para a absorção de mais capital na B3 é a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, a despeito, é claro, das vidas envolvidas nos ataques. As ofensivas russas, a contragosto das potências ocidentais, vêm fazendo com que outros países se envolvam no conflito por meio de sanções. Isso coloca os principais mercados europeus e o norte-americano em rota de colisão com os interesses dos investidores.

Uma nota de conjuntura elaborada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), referente ao 1º trimestre de 2022, acrescenta que há um choque de oferta provocado pela interrupção da produção, exportação e importação dos dois países. Não tanto pela envergadura comercial ucraniana, mas por sua relevância em alguns produtos na base econômica internacional, como o óleo de girassol, o milho e o trigo, além do minério de ferro. A Rússia, por sua vez, tem forte potencial de petróleo cru e refinado, gás natural e, considerando o Brasil, fertilizantes.

Diante de tantas commodities a perigo, o mercado brasileiro, portanto, acaba servindo de porto seguro para quem quer investir sem enfrentar grandes tormentas da guerra na Eurásia. Isto não significa que o país esteja imune às intempéries que recaem sobre outras economias. Basta lembrar que o último reajuste do barril do petróleo decorreu da crise diplomática, e acabou por pressionar uma boa parte da cadeia produtiva brasileira. Mas até o momento têm sido riscos dentro de um limite que não afetam os investimentos na bolsa.

E há fortes perspectivas de que o dinheiro estrangeiro aporte ainda mais a partir de maio. O Comitê de Política Monetária (Copom) sinaliza que poderá realizar um novo aumento da taxa de juros na reunião de maio, elevando o índice em mais um ponto percentual. Para efeitos de comparação, os juros nos Estados Unidos hoje estão em 0,5% - uma estratégia ainda modesta do Federal Reserve para conter a inflação no país norte-americano. Por isso, o Brasil deve continuar nadando de braçada, e sem concorrentes por perto.

*Trader, CEO e sócio fundador da Lotus Capital 

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