Débora Brito Goulart*
Hoje, quero compartilhar um tema que tem sido relegado para um terceiro plano em muitas agendas internacionais, mas que é de fundamental importância para mudar a situação atual do mundo, convulsionada pela violência gerada pela falta de valores em que a humanidade vive.
A raça humana fez um progresso significativo nos últimos sete milhões de anos. De neandertais que habitavam cavernas a futuristas de jet-set, percorremos um longo caminho. Hoje, quando nos preparamos para tornarmos um planeta de quase nove bilhões de habitantes, estamos melhores do que há milênios? É claro que o acesso às necessidades básicas da vida nunca foi tão fácil. Porém, uma parte significativa da sociedade ainda não tem acesso à educação. Educação, elemento essencial que ajuda a criar sociedades mais justas, desenvolver virtudes e nos dá liberdade. Um novo relatório da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) aponta que aproximadamente 10% das crianças do mundo não têm a oportunidade de frequentar o ensino básico, uma estatística que tende a piorar.
A educação é um direito fundamental de todo cidadão, pois promove benefícios indispensáveis ao desenvolvimento pessoal. Ao melhorar as condições socioeconômicas nas seções marginalizadas da sociedade, a educação eleva o índice de desenvolvimento humano. Ela nos ajuda a transformar as nossas fraquezas em força. Por exemplo, em países onde as mulheres sofrem preconceitos de gênero, a educação tem um papel fundamental no sentido de ajudá-las a enfrentar a violência conjugal por meio do aprimoramento da capacidade de tomada de decisões.
A educação nos faz questionar superstições, dando-nos uma mente analítica. Uma mente educada ansia por lógica e raciocínio crítico. A fé cega atola a sociedade e nos leva ao extremismo violento e irracional. Baseando-se em crenças religiosas, étnicas e políticas, ideologias extremistas glorificam a supremacia de um grupo específico e se opõem a uma sociedade mais tolerante e inclusiva. Pessoas agressivas e extremistas fazem mal à sociedade; são 100% dispensáveis. Creio que o desarmamento do processo de radicalização deva começar com o fortalecimento dos direitos humanos e com a conscientização de que a diversidade é importante e deve ser celebrada. Em qualquer universidade norte-americana de prestígio, grande parte do corpo docente e estudantes é formado por pessoas de outros países. Sem diversidade, não há conhecimento. Sem conhecimento, não há futuro e esperança.
O ser humano tem livre arbítrio para escolher o que assumirá como crenças, valores e princípios, e projetá-los por meio de suas ações. É nesse sentido que a educação baseada em valores universais, orientada para o respeito ao próximo, é um instrumento para uma vida harmoniosa em uma sociedade igualitária, inclusiva, justa e pacífica. Temos tratado a educação “apenas” como um método de transmissão de conhecimento. Porém, além de treinar adequadamente os cidadãos em habilidades e competências, devemos educá-los para a paz. O nosso erro é assumirmos a paz como um desejo, e não como uma necessidade.
*Bacharel em medicina veterinária (UFMG), especialista em ciência animal (Universidade de Minnesota), mestre em ciência dos alimentos (Universidade de Wisconsin) e doutoranda em microbiologia e imunologia (Universidade Estadual de Iowa). dgoulart@iastate.edu