Sabedoria e grandeza mineira

25/10/2021 às 19:21.
Atualizado em 05/12/2021 às 06:07

Aristóteles Drummond*

No livro de memórias que lançarei no início de novembro, narro um episódio que testemunhei de alta sabedoria política e pessoal, do governador Negrão de Lima, então meu chefe e inesquecível amigo.

Quando da edição do AI-5, os estados tiveram de adaptar suas constituições ao documento legal que ficou, temporariamente, incluído na Carta Magna. Ocorre que o Estado da Guanabara e mais alguns tiveram suas assembleias em recesso no mesmo momento, cabendo aos governadores sancionarem a adaptação.

Uma tarde, o governador me chama e pede que eu levasse, no dia seguinte, à sua residência, meu amigo e jovem talentoso procurador do Estado Nelson Diz, e que guardasse sigilo daquela convocação. No dia seguinte, apanhei o Nelson em casa e fomos à casa do governador.

Lá chegando, fomos a uma saleta que tinha na entrada e ele, com um envelope na mão, pede que Nelson levasse a Constituição estadual, a federal e o texto integral do Ato para redigir a adaptação. E explicou o motivo do segredo sobre aquele pedido e aquela missão. O governador disse que tinha quatro auxiliares do mais alto nível jurídico e, se confiasse a um deles a missão, desagradaria os demais; se pedisse a todos para o fazerem em conjunto, as vaidades não permitiram uma solução rápida e ele não queria que os militares achassem que ele estava empurrando a obrigação com a barriga. Prudente, sábio e responsável, pois sabia que sua obra de governo, no auge àquela altura, se devia às boas relações com o governo federal. E assim foi feito, Nelson Diz, em três dias, tinha o trabalho concluído e levamos, noutra manhã, à casa do governador.

Os auxiliares que Negrão não queria desagradar eram Álvaro Americano, seu predileto, o professor Alberto Cotrim Neto, um gênio jurídico, o procurador-geral do Estado Lino Sá Pereira e o procurador de Justiça Leopoldo Magnavita Braga.

O sábio Negrão, ao passar os olhos no documento, o guardou e disse: “Direi a eles que veio pronto de Brasília e por isso não mexi”.

Negrão não queria quebrar a harmonia de sua equipe. Coisas que esta turma de hoje não entende. Assim, pôde alargar a avenida Atlântica e a faixa de areia de Copacabana, construir os acessos à Barra da Tijuca, erguer35 mil casas populares e remover favelas do entorno da Lagoa Rodrigo de Freitas, a do Esqueleto, para dar lugar ao campus da Universidade do Estado da Guanabara - atual UERJ, no Maracanã, entre outras obras relevantes.

Tudo o que queremos do prefeito Eduardo Paes é que deixe a política para o ano que vem. Até lá, desejamos que administre e tenha boas relações com os governos do Estado e da União. 

*Jornalista

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