Essa pergunta não tem a intenção de ser filosófica. Não quero saber como sua mãe, tia, avó, ou talvez seu pai, tio ou avô, te educaram. Estou falando da professora da escola. Provavelmente foi uma mulher. Segundo o Censo Escolar 2023, 94% dos profissionais da educação infantil no Brasil são mulheres. A probabilidade de você já ter tido que responder a essa pergunta em algum momento da vida é enorme. Confesso que ainda não conheci alguém que tenha escapado dela.
Minha experiência no ensino fundamental foi traumática. Naquela época, em uma elaboração mais nossa e sem anglicismos, para definir as agressões e rejeições, não dizíamos que sofríamos bullying. Falávamos apenas que alguém mexia com a gente. Por isso, pensar em voltar para a escola nunca me passou pela cabeça, muito menos ser professor. Mas quando conheci minha primeira professora de inglês, a Miss Tatiana Miranda, me apaixonei pelo idioma. Hoje, sou doutor no assunto. Ainda assim, quero voltar à pergunta inicial e dela extrair uma reflexão: quem são os professores hoje em dia? O que fazem? Como fazem? Por que ainda fazem? E, sobretudo, como são tratados?
A um mês do dia dos professores, no dia 15 de setembro, o Governo Brasileiro anunciou a Carteira Nacional do Docente, um documento que, segundo o Ministério da Educação, visa “reconhecer o valor dos professores” e recompensá-los com descontos e pseudobenefícios. O anúncio prometeu preços mais baratos para cinemas e teatros, cartões de crédito com taxas menores, descontos em hospedagens etc. Entretanto, vale lembrar que no primeiro semestre de 2024, das 23 greves registradas no funcionalismo público, a Educação foi destaque com cinco greves ativas. No meu caso, na esfera federal, ficamos 70 dias parados. Mas não fizemos greve por descontos em shows nem por cartões de crédito. Fizemos greve por condições dignas de trabalho, por um plano de carreira justo, pela revisão de decisões autoritárias e desrespeitosas herdadas do governo Jair Bolsonaro, entre tantas outras pautas negligenciadas.
Perguntei quem foi sua primeira professora e agora pergunto: qual foi o primeiro professor que você apoiou este ano? Ao lado de qual docente você marchou, protestou, se indignou? Nenhum direito foi conquistado sem luta. Nenhum governo age sem pressão. Saber quem são esses professores, seus nomes, seus rostos e suas causas é reconhecer o papel social que exercem e entender que o desenvolvimento do país depende deles, de escolas equipadas, salários justos e respeito profissional.
Carteira docente não é investir em educação e muito menos valorizar o professor.
Ela sozinha não representa valorização. Representa apenas marketing e um gesto francamente eleitoreiro. Quando um governo realmente valoriza a educação, ele não permite que uma greve ultrapasse dois meses. Ele remunera adequadamente, escuta a realidade das escolas, respeita os servidores, cobra os prefeitos e governadores para que cumpram os acordos.