Simone DemolinariPsicanalista com Mestrado e dissertação em Anomalias Comportamentais, apresentadora na 102,9 e 98 FM

A arte de levar um fora

18/05/2016 às 18:38.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:30

Se dizer um “não” já é algo muito difícil, imagina ouvir um “não”? Além de difícil é dolorido, sobretudo quando acontece no campo do sentimentos. 

A possibilidade de levar um fora faz parte do jogo da conquista. Mas saber disso não alivia o sofrimento, afinal de contas ser preterido mexe com uma das nossas piores feridas emocionais: a rejeição. 

A sensação de ser rejeitado em nenhum aspecto é bem digerida. Ela é sentida quando somos demitidos, substituídos, desprezados, esquecidos, ou quando a pessoa que você quer não te quer. Só não tem um peso de rejeição as cantadas fortuitas em baladas, estas geralmente estão a serviço da diversão e não do sentimento. 

No intuito de minimizar a frustração de ser preterido, muitos tentam avaliar se as condições são promissoras ou adversas através dos sinais. Algumas pessoas – as mais destemidas – preferem ignorar estes sinais e manter firme a missão da conquista. Preferem a certeza à dúvida pois tem convicções fortes de que são capazes de se recuperarem mediante o revés. Já outros – os mais medrosos – preferem pisar em campo seguro, na falta de indícios positivos escolhem não seguir em frente, recuam. 

Há um dito popular que incentiva os menos corajosos, dizendo: “o não você já tem, vá atrás do sim”. Essa frase, apesar de ser bem intencionada, despreza as consequências. O “não” subentendido é muito diferente do “não” explicito. O segundo dói mais. O sujeito vai atrás do “sim” pode acabar encontrando o “super não”, aquele que leva à lona. 

Ganhar ou perder no campo do amor depende de vários fatores, inclusive os subjetivos. Por isso é tão complicado procurar garantias, o melhor a se fazer é conhecer seus próprios limites. 

Quais são seus limites? Existem pessoas que ao ouvirem um “não”, apesar de tristes, sentem-se aliviadas. Entendem que aquela negativa é o fim de um investimento onde todas as possibilidades foram esgotadas. Carregam consigo a leveza de quem tentou. Por outro lado, há aqueles que quando levam um fora ficam deprimidos, com sensação de fracasso, arrependidos por se exporem frente ao outro e com a autoestima baixa. Costumam buscar conforto com amigos que entre uma fala ou outra, dizem: “não fique triste, quem está perdendo é ele (a)”. Esse tipo de consolo não passa de papo furado, pois na prática quem perdeu foi o rejeitado, afinal de contas era ele quem queria. 

Se levar um fora é ruim, dar um fora também não é bom. Embora seja mais confortável, há sempre um constrangimento para ambos. Por isso é comum àquele que dispensa fazê-lo de forma mais cuidadosa possível. Geralmente até propondo continuar a relação em forma de amizade, mas nem sempre é possível transformar um desejo de atração em laços sociais. 

O fato é: quando um não quer, dois não ficam. Uma vez constatado isso, o melhor a fazer é ir para casa e conformar. Mas nunca esquecendo que, em que pese toda a angústia da rejeição, houve uma experiência extremamente positiva: a aposta. Só leva um “não” quem arrisca, quem ousa, quem supera o medo, quem coloca suas inseguranças de lado e se desnuda para o outro, ou seja, quem faz o que poucos fazem: são fieis a si. 

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