Simone DemolinariPsicanalista com Mestrado e dissertação em Anomalias Comportamentais, apresentadora na 102,9 e 98 FM

A importância da família no nosso desenvolvimento emocional

Publicado em 26/12/2024 às 06:00.

A atuação da família tem impactos consideráveis na vida adulta. Nossa inteligência emocional começa se desenvolver desde os primeiros dias de vida em todas as nossas vivências com nossos pais, na escola, na sociedade, na igreja e relações interpessoais. Todos os estímulos recebidos carregam consigo registros emocionais que irão nos acompanhar por toda nossa vida, tanto para as coisas boas, quanto para os traumas.

Educar emocionalmente os filhos é o grande desafio para os pais e na busca de acerto,  costumam incorrer em erros comuns como repetir padrões recebidos na própria infância, ou o contrário, para evitar modelos rígidos e autoritários optam por afrouxar e acabam sendo permissivos e superprotetores. Dessa forma, se veem, cada vez mais, sem meios para tratar com firmeza a educação de suas crianças. 

Por conta disso, paga-se um preço alto. Quando crianças, acabam não desenvolvendo meios próprios para se manter sozinha ou caminhar com as próprias pernas. Se tornam hiperdependentes, só se sentindo bem recebendo os mimos dos pais. E seguem sofrendo os danos da má criação por toda a vida. Quando adultos, não conseguem tomar decisões, sentem-se inseguros e perdem a iniciativa. Além disso, sentem grande dificuldade de fazer escolhas por si, pois carregam consigo um sentimento de culpa equivocado introjetado, acreditando que estão sendo egoístas, ingratos ou faltosos com seus pais. Dessa forma, não conseguem cortar o cordão umbilical com os pais. Mesmo formando uma nova família continuam sendo adultos mimados, os “filhinhos dos papais” com baixíssima inteligência emocional.

Na contramão dessa realidade, temos aqueles filhos que sofreram com a ausência da familiar. Seja por negligencia, falta de tempo, ou mesmo um analfabetismo emocional os pais acabam não percebendo a real necessidade emocional dos filhos e os deixam parcialmente desassistidos. 

A falta desse aconchego emocional deixam muitas marcas no vida adulta. Isso porque percebemos o amor através de dois componentes fundamentais: um objetivo e o outro subjetivo. O primeiro tem a ver com a parte prática da vida: cuidados básicos, apoio financeiro, assistência, etc. Já o segundo é percebido de forma particular através do  acolhimento - me sinto acolhido quando o outro me compreende através da minha ótica e consegue me proporcionar sensação de aconchego. Para nos sentirmos amados é preciso a existência dos dois componentes. Apenas um não basta. Na infância não temos a consciência disso, afinal, enquanto crianças, recebemos o que precisamos. Mas, na vida adulta esse déficit se manifesta através da baixa autoestima fazendo com que o individuo tenha grande dificuldade de si considerar colocando o outro sempre na frente de si mesmo. Se sentem bem fazendo isso e pensam que são felizes assim. Até são, mas não pelo altruísmo da ajuda, e sim pela fragilidade da falta do amor próprio. 

Concluímos, portanto, a influência da família na formação das nossas inteligência emocional, mas, apesar das marcas, não estamos fadados a vivermos prisioneiros daquilo que nos oprime. Podemos e devemos, através do autoconhecimento ajustarmos tudo que não nos cabe mais. 

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