Inveja é um sentimento de tristeza, angústia ou até mesmo raiva que uma pessoa sente perante a felicidade, prosperidade ou sucesso de outra. Não significa querer o que o outro tem, isso é cobiça - que não necessariamente contém inveja. Os sentimentos são confusos e pode dificultar ainda mais a percepção quando isso tudo se mistura em laços de amor. Como entender que algo tão hostil possa vir de um ambiente tão ideologicamente sólido como um contexto familiar, por exemplo?
Isso é bastante comum entre irmãos, quando um se torna bem sucedido enquanto o outro não consegue sair do lugar. Outra situação recorrente é entre mãe e filha, quando uma sente inveja da vitalidade e juventude da outra e numa atitude inconsciente e embalada de amor começa a criticar e reprovar o comportamento, a roupa e até as escolhas afetivas da filha - que se sente muito decepcionada, pois, ao invés da mãe vibrar com seu sucesso, acaba por hostilizá-lo.
Entre pai e filho também ocorre algo parecido, porém no campo profissional. Nesse caso, a manifestação da inveja se dá por meio do controle, como num ato inconsciente de não perder o poder. É como se o filho não pudesse ultrapassar uma hierarquia, e com isso precisasse obedecer aos comandos, imposições, implicâncias e exigências.
No casamento isso também ocorre: marido e mulher entram numa espécie de disputa, onde chega ao ponto de um torcer contra o sucesso do outro, como se fosse um campeonato em que, para um ganhar, o outro tivesse que perder. Entre amigos às vezes também acontece, quando um prospera e o outro, não.
É como se em nossa cabeça tivesse um termômetro permanentemente ligado medindo o que está acima e abaixo, e quando nos sentimos rebaixados, o dispositivo apita, nos mandando um comando reativo que se manifesta basicamente de algumas maneiras, como:
- Crítica: de uma forma prepotente, o crítico coloca o criticado como um ser inferior, desqualificando suas ações. Essa suposta superioridade muitas é pura manifestação de inveja, caso contrário ele não se sentiria tão incomodado.
- Ingratidão: É comum pensar que quem recebe favores materiais e/ ou emocionais se sente grato por quem o fez. Nem sempre! Há pessoas que quando estão na condição de recebedoras desenvolvem uma raiva do doador. Essa raiva deriva do fato de se sentirem por baixo, elas aceitam a ajuda por falta de opção, mas no fundo gostariam de estar no lugar de quem está ajudando. Com isso, acabam desenvolvendo sentimentos opostos à gratidão. Quanto mais ele recebe, mais humilhado se sente e mais ressentido fica. No final, acaba arranjando algum pretexto para se afastar, acusando o outro de algo que ele não fez no intuito de tentar diminuir a sua imagem. A ingratidão é grande demonstração de inveja.
- Boicote e agressividade gratuita: é uma hostilidade dirigida à quem nada fez além de existir. Pode acorrer de forma declarada ou velada através de fofoca, difamação e mentiras.
Convém lembrar que a inveja deriva da admiração. Por isso, muitas vezes fica tão difícil mapeá-la. Nem sempre aquele que é alvo consegue perceber, assim como quem a sente admite algo tão reprovável em seu próprio julgamento. Acabam definindo apenas como amor a manifestação de outras questões reprimidas. Volto a dizer: inveja e amor co-existem - é possível senti-los ao mesmo tempo.