Simone DemolinariPsicanalista com Mestrado e dissertação em Anomalias Comportamentais, apresentadora na 102,9 e 98 FM

Balanço patrimonial emocional

Publicado em 29/12/2022 às 06:00.

Última semana do ano é um convite, quase automático, à reflexão. Apuramos o que fizemos de bom, o que nos falta e o que queremos para o próximo ano. Fazemos então um balanço de fim de ano da nossa vida. Usando a filosofia que rege a contabilidade, o balanço patrimonial é uma fotografia da saúde financeira de uma empresa, que avalia os ativos que são as entradas e os passivos que são as saídas para apurar o patrimônio líquido.

Assim como essa apuração contábil, temos o nosso patrimônio imaterial. Como anda sua empresa chamada “vida”: dando lucro ou prejuízo? Conseguir mapear nossos extratos é fundamental para mudar o rumo daquilo que não vai bem em prol dos avanços emocionais e da preservação da saúde mental.

Podemos aplicar essa contabilidade emocional para medir as nossas relações afetivas, de amizade e profissionalmente. Mas é preciso estar atento para não cometermos equívocos, pois tendo em vista que os ativos e os passivos são subjetivos, corremos o risco de contabilizar como passivo nossas próprias frustrações derivadas das nossas ilusões.

Isso ocorre pois quando desenhamos o ideal de uma situação perfeita corremos o risco de que tudo que não ocorra de acordo com o que imaginamos desencadeie em nós frustrações e decepções. E, quando isso acontece, nosso primeiro pensamento é tentar culpabilizar aquele que deixou a desejar, ou seja, o pseudo causador do problema. Um equívoco! Desenhar patamares querendo que o outro alcance é, antes de mais nada, um erro nosso, não do outro.

É claro que temos direito de querer algo ou alguém com o nível de qualidades desejado por nós. Mas para isso precisamos alinhar a expectativa à realidade. Não podemos esperar que pé de manga dê goiaba. Milagres dessa natureza só acontecem na nossa imaginação pueril, mas jamais na vida real.

Toda ilusão gera uma desilusão. Enquanto não trabalharmos com as possibilidades verdadeiras, não conseguiremos fazer um balanço patrimonial que seja, de fato, um retrato da realidade. Para isso, nos convém um mergulho honesto dentro de nós, só assim conseguiremos chegar mais próximo de uma contabilidade justa: nem tão tirana com o outro, nem tão rigorosa conosco.

Apurar esse balanço e ajustar o que é necessário é fundamental para não corrermos o risco de chegar ao fim do próximo ano com os mesmos descontentamentos que esse.

Dedicamos-nos aos avanços emocionais, à construção da autoestima e inteligência emocional para lidarmos, com maturidade, com as adversidades da vida é tão ou mais importante que as conquistas materiais, visto que, em termos de satisfação pessoal, não há dinheiro que pague. 

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