Simone DemolinariPsicanalista com Mestrado e dissertação em Anomalias Comportamentais, apresentadora na 102,9 e 98 FM

Como se manifesta a dependência emocional

24/08/2016 às 19:29.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:32

Incapacidade de ficar sozinho – este é o grande problema de algumas pessoas. E não me refiro a ficar sozinho no campo afetivo amoroso. Alguns sofrem pela incapacidade de estar só em qualquer contexto. Precisam sempre de outros para lhe fazer companhia, obter conforto, confiança, segurança e apoio. Não ter alguém é tão assustador que preferem a condição de estar mal acompanhados do que sós. 

Este padrão de comportamento deriva de uma percepção de si mesmo como uma pessoa incompleta e incapaz que necessita do outro para funcionar adequadamente. 

Geralmente, os indivíduos dependentes transformam coisas corriqueiras em grandes dilemas, como por exemplo comprar ou não uma roupa, dar um telefonema, se portar dessa ou daquela maneira. Não há uma confiança em si sem a chancela do outro. Embora mesmo com a chancela, a insegurança também não termina. É algo inerente.

O dependente é um constante sofredor, vive com intermináveis diálogos internos desconfiados da sua percepção e sempre se punindo severamente caso algo saia errado. A incapacidade desses indivíduos em funcionarem sozinhos é tão grande que preferem concordar com algo que vai contra seus princípios do que tomarem decisões por si só ou correr o risco de perder o vínculo com a pessoa que depende. 

É importante ressaltar que esta dependência é exclusivamente emocional e não financeira. Uma necessidade escravizante fruto de uma autoestima pobre e desestruturada, que frequentemente resulta em relações desequilibradas e doentias. 

Num grau mais avançado, esse comportamento pode estar ligado ao Transtorno de Personalidade Dependente. As características essenciais desse transtorno são: 
– Dependência excessiva do outro; 
– Dificuldade em expressar discordância;
– Comportamento submisso beirando a servidão por medo de ser abandonado; 
– Solicitação constante de aconselhamento;
– Dificuldade em iniciar projetos ou fazer coisas por conta própria (não por falta de motivação, mas por medo);
– Dificuldade em enfrentar situações de conflito; 
– Sequenciais relacionamentos afetivos; 
– Vai ao extremo para receber carinho a ponto de submeter-se a fazer algo desagradável;
– Necessidade excessiva de ser cuidado;
– Medo irreal de ficar “sozinho na vida”.

Não é possível mapear ao certo as causas desse transtorno, contudo, estudos apontam tanto fatores biológicos quanto psicológicos como desenvolvimento desse comportamento. 

Indivíduos com Transtorno Dependente não têm autonomia emocional, tampouco vivem sozinhos. Na iminência de serem abandonados, lutam até o limite do absurdo para não perderem seu ponto de apoio. Mas caso isso ocorra, transferem sua dependência de forma indiscriminada a outra pessoa. Figuras de apego são basicamente permutáveis: pais, parceiros afetivos, novos parceiros afetivos, filhos, amigos, vizinhos. Vale qualquer presença que não seja a dele mesmo. Uma triste prisão.

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