Simone DemolinariPsicanalista com Mestrado e dissertação em Anomalias Comportamentais, apresentadora na 102,9 e 98 FM

Como se manifesta seu vazio existencial?

Publicado em 27/04/2023 às 06:00.

A solidão é um sentimento que gera angústia, assim como a ociosidade. Não ter nada para fazer pode ser um tormento para muitos que buscam preencher seus horários com inúmeras atividades e evitam ao máximo ficar sozinhos. Parece ser bem mais agradável reclamar da falta de tempo e do cansaço a conviver com tempo sobrando. Da mesma maneira que ter uma má companhia parece ser, para muitos, melhor que estar só.
 
A solidão, assim como o tempo livre, revela com mais nitidez a sensação de vazio existencial e abre espaço para questionamentos sobre a vida, mas é preciso aceitar que ser sozinho é a condição original de todo ser humano.
 
A partir do nosso nascimento, a primeira emoção sentida ao ter contato com o mundo externo é a de rejeição, afinal fomos expulsos do útero. Não é à toa que nascemos chorando e com cara de apavorados. 

Ao nascermos somos então calorosamente acolhidos pela nossa mãe e posteriormente aconchegados em seu peito. Esse aconchego atenua a sensação de desamparo que permanecerá acoplada em nós para o resto da vida. Não há como evitar esse registro, afinal, todos fomos expulsos do útero. Esse “carimbo" imprime no nosso mais profundo inconsciente o buraco da incompletude.

Seguimos então pela vida tentando preencher esse “buraco”, primeiramente através de conquistas materiais, e depois emocionais, buscando a "outra metade” - daí as expressões “a tampa da panela”, "a metade da laranja”, “alma gêmea”, entre outras. Não há como negar que relacionamento amoroso é um bom remédio para atenuar a sensação de incompletude - mas atenua, não elimina o problema, pois ele é original, inerente à existência.
 
Dessa maneira, ficamos à frente de uma grande questão: conviver com esse “buraco” de forma serena e harmoniosa. Muitos não conseguem e vivem uma busca desordenada por algo que nem se sabem direito o que é.
Ora é a conquista da carreira de sucesso, ora é a aquisição de algo, ou a busca do par afetivo, ou a troca dele quando acaba a adrenalina da paixão. E depois vem outra coisa e outra, a busca é sem fim e o buraco, impreenchível. 

Não quero com isso dizer que as conquistas materiais e ou emocionais não sejam gratificantes e prazerosas, apenas reflito sobre o vazio existencial, para o qual não há conquista que preencha. O problema maior ocorre quando o individuo percorre caminhos autodestrutivos para obter prazer imediato como drogas, bebida, consumismo, compulsões, conquistas amorosas recorrentes e outros comportamentos erráticos nitidamente percebidos no exagero - todo excesso revela uma falta. 

O melhor remédio para esse "buraco" é aprender a conviver com ele e com a sensação de incompletude que ele traz. Alem disso, temos que lidar também com as dúvidas sobre várias questões existenciais, inclusive a razão de estarmos aqui. Há uma frase na filosofia que diz: “A vida não tem sentido nenhum, mas não é proibido dar-lhe algum”. 

Para uma boa saúde física e principalmente mental, nos convém direcionar, de forma equilibrada, nosso vazio existencial. 

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